Ao elevar a taxa básica da economia (Selic) de 14,25% para 14,75% ao ano na semana passada — maior patamar em 19 anos –, o Banco Central não deu sinais de quando poderia interromper o ciclo de alta dos juros, iniciado em setembro de 2024. E, na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (13/5), apesar de manter o número de páginas, o BC amplia de nove para doze as vezes em que usa a palavra risco e de três para nove vezes as citações da palavra fiscal. E, assim como no comunicado da reunião dos dias 6 e 7 deste mês, deixou em aberto a decisão da próxima reunião, que ocorrerá em junho e reforçou duas vezes o recado da nota ao ampliar de 23 para 27 o número de parágrafos da ata.
“Com relação à próxima reunião, o Comitê avaliou que o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, escreveu o colegiado, acrescentando que “se manterá vigilante e a calibragem do aperto monetário apropriado seguirá guiada pelo objetivo de trazer a inflação à meta no horizonte relevante e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais
sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.
Em relação aos riscos, o colegiado demonstrou preocupação com a piora do cenário internacional, mas admitiu maior preocupação com a questão fiscal e seus impactos na manutenção dos juros em patamares elevados devidos aos estímulos recentes do governo. O colegiado dedicou dois parágrafos para falar sobre essa questão.
“A conjuntura externa, em particular os desenvolvimentos da política comercial norte-americana, e a conjuntura doméstica, em particular a política fiscal, têm impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros”, destacou o texto.
Conforme o documento, o Copom “segue utilizando a política fiscal como insumo em sua análise e, dada a política fiscal corrente e futura, adotará a condução de política monetária apropriada para a convergência da inflação à meta”. “O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”, acrescentou.
O colegiado, em sua análise de atividade, manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas. “Em particular, o debate do Comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas”, emendou.
De acordo com o comunicado destacou que “segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O Copom reforçou que “o cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho” para reforçar que o essas conjuntura “prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta”.
Apesar da revisão para baixo das expectativas do BC para a inflação deste ano e do próximo, em relação à ata anterior, de 5,1% para 4,8%, em 2025, e de 3,9% para 3,6%, em 2026, as projeções seguem acima do centro da meta, de 3%, que tem um teto de 4,5%.
Ao ressaltar que continua com a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas, o colegiado destacou que, no período recente, “a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida seguiu impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”. Nesse sentido, o Copom “reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”.