O Banco Central reforçou, em ata divulgada nesta terça-feira (17/12), a preocupação de piora do cenários interno e externo para dar o choque de juros na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada, quando elevou a taxa básica da economia (Selic) em 1,0 ponto percentual, para 12,25% ao ano. Na ocasião, o colegiado anunciou que pretende realizar mais duas altas na mesma magnitude, o que levará a Selic para 14,25% em março de 2025, ou seja, um choque nos juros de 300 pontos-base na última reunião do ano do colegiado e do atual presidente Roberto Campos Neto.
“As condições financeiras e a taxa de câmbio passaram por forte alteração no período mais recente. A conjunção de uma taxa de câmbio mais depreciada com a elevação das curvas de juros nominal e real torna o ambiente mais complexo”, destacou o texto da ata, um dia após o dólar fechar em mais um pico histórico, de R$ 6,092. Pelas novas projeções do Comitê, a taxa de juros neutra aumentou de 4,75% para 5%, o que exigiu o aumento do ritmo de aperto da política monetária.
O Copom, entretanto, não sinalizou quando pretende interromper o ciclo de alta de juros, iniciado em setembro. “A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, destacou o texto.
Essa falta de sinalização tem feito o mercado elevar as apostas para a taxa Selic terminal do ciclo de ajuste monetário e também para o fim de 2025. Atualmente, no boletim Focus, a mediana do mercado para a Selic em dezembro do próximo ano passou de 13,50% para 14%, por exemplo.
Preocupações com câmbio e quadro fiscal
No documento, que ganhou mais três parágrafos em relação ao anterior, de novembro, o Banco Central demonstrou preocupações maiores com o câmbio e a deterioração do quadro fiscal.
“Na discussão que embasou tal deliberação duas dimensões foram bastante discutidas. Em primeiro lugar, a magnitude da deterioração de curto e médio prazo do cenário de inflação exigia uma postura mais tempestiva para manter o firme compromisso de convergência da inflação à meta. Em segundo, vários riscos se materializaram tornando o cenário mais adverso, mas menos incerto, permitindo maior visibilidade para que o Comitê oferecesse uma indicação de como antevia as próximas decisões”, destacou a ata.
O texto ainda informou que o repasse do câmbio para os preços na atual conjuntura, porque ele “aumenta quando a demanda está mais forte, as expectativas estão desancoradas ou o movimento cambial é considerado mais persistente”. “Desse modo, o Comitê deve acompanhar de forma mais detida como se dará a transmissão da taxa de câmbio e das condições financeiras para preços e atividade”, acrescentou.
No documento, o Comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas e destacou o aumento da preocupação com a repercussão negativa do mercado com o anúncio desastrado do pacote fiscal feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. De fato, as expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, elevaram-se em todos os prazos, indicando desancoragem adicional”, destacou a ata. Segundo o comunicado, tanto o prêmio de inflação extraído dos instrumentos financeiros quanto as expectativas de inflação se elevaram no período, “tornando o cenário de inflação mais adverso e requerendo uma política monetária mais contracionista”.
Conforme as novas projeções do Comitê, a inflação oficial encerrará 2024 com alta de 4,9% – acima da previsão da reunião anterior, de 4,6%. Nos dois anos seguintes, o BC revisou as estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 3,9%, em 2025, e 3,6%, no segundo trimestre de 2026, para 4,5% e 4,0%, respectivamente.
“A ata do Copom trouxe atualizações relevantes que refletem o cenário econômico mais desafiador, com atividade econômica acima do previsto, aliado à robustez do mercado de trabalho, evidencia a resiliência da atividade econômica. Esse dinamismo, impulsionado pela queda da taxa de desemprego e pelo aumento da formalização de vagas, tem sustentado o consumo e pressionado a inflação de serviços, que segue persistente e acima do nível compatível com a meta. Soma-se a isso a política fiscal expansionista, que tem contribuído para o fortalecimento da demanda agregada, atuando como fator adicional de pressão inflacionária”, destacou o economista Arnaldo Lima, da Polo Investimentos. Segundo ele, a ata ainda ressalta que o cenário, “embora mais adverso, apresenta maior visibilidade quanto às medidas necessárias para conter a inflação”. “O Comitê reforçou seu compromisso com a convergência da inflação para a meta, destacando que a magnitude total do ciclo de aperto dependerá da evolução de indicadores como a dinâmica inflacionária, as projeções de mercado e a resposta da atividade econômica à política monetária em curso”, acrescentou.
Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, avaliou que a ata de trouxe “poucos elementos adicionais que contribuíram para o tom mais duro (hawkish) já fornecido no comunicado da semana passada”. “Assim, consideramos consistente com o nosso cenário de que a taxa Selic atinja 15% no pico do ciclo de alta, em maio de 2025. Os riscos, no entanto, continuam inclinados para cima, dada a persistente incerteza quanto à condução da política fiscal e a deterioração recente nos preços dos ativos, principalmente, a taxa de câmbio”, afirmou.