Por Luiz Recena Grassi*
A Rússia escapou por pouco de uma grande tragédia anunciada por um tsunami na costa de Kamchatka A ameaça veio depois de terremoto que atingiu 8,8 graus na Escala Richter, que vai até 11. O fenômeno chegou ao Japão, Havaí (Estados Unidos), Alaska (EUA) e, mais calmo, até aos portos do Peru e Equador. Todos os ameaçados estavam preparados e resistiram sem vítimas humanas.
Ao mesmo tempo, um outro momento, político, foi prometido à Rússia: o líder dos Estados Unidos, Donald Trump, se disse sem mais paciência para aturar as manobras do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e sinalizou com novos e mais curtos prazos ao fim dos quais vai partir para novas sanções econômicas contra o Kremlin.
Putin passeou na Praça Vermelha e mais não fez. O aliado Dmitri Medvedev, ex-presidente russo, é quem opera nessas horas. Ameaçou usar armas nucleares se Trump fizesse alguma maldade. Ressuscitou o “Mão Morta”, sistema tétrico de defesa nuclear soviético dos tempos da Guerra Fria.
Sopa no mel! Música para o Senhor do Império Laranja, como já está a ser chamado, pela inusitada cor de seus cabelos. Ele determinou o deslocamento de dois submarinos nucleares para águas próximas da Rússia. Tudo isso quando o quadro geral melhora, Rússia e Ucrânia voltam a negociar de verdade e Putin elogia Kiev por aceitar negociar “sem câmaras e em ambiente calmo”.
No lado laranja, está quase concluído o detalhamento do acordo com a União Europeia, que está a ceder tudo para não entrar em guerra tarifária. Ou como disse o líder húngaro, Viktor Orbán, “na Escócia, Trump comeu Ursula von der Leyen ao café da manhã”. E, antes do almoço, conseguiu tudo o que queria. No resto do mundo há vários acordos ou expectativas de entendimento.
Mesmo em países onde Trump quer misturar economia com política interna, caso do Brasil, um entendimento tarifário está saindo, com tarifas contra o Brasil, mas com exceções para centenas de produtos. Assim, fica reduzido o espaço para terremotos e tsunamis que venham de Washington.
E é bem possível que, apesar da distância, Estados Unidos e Rússia consigam dar passos de entendimento. O caviar e a paz estariam garantidos. No plano do conflito o ritmo é o mesmo, com novos fatos para o lado russo, que depois de mais de ano entrou em Chasiv Yar, cidade chave para a conquista final da região de Donetsk. Os dois lados continuam a trocar prisioneiros. Na sexta-feira, foram 303 de cada lado.
A guerra dos números continua. A Ucrânia diz que a Rússia já perdeu mais de um milhão de soldados, somando-se aqui, presos, mortos e feridos em pouco mais de três anos de combates. As fontes, além do governo de Kiev, são todas de entidades ou países aliados. A Rússia nega tudo, diz que as perdas humanas andam na casa dos 300 mil soldados. E muda de assunto, para destacar as perdas materiais dos ucranianos, que passam do milhar em todos os quesitos: drones, mísseis, aviões, tanques de combate e de transportes, armas pesadas, leves e muitas e muitas munições.
Durante o conflito, a Rússia organizou alguns museus com o material conquistado. O de Moscou tem foco em armas, tanques e outros equipamentos bélicos originários de outros países que não a Ucrânia. Na última semana, os russos mostraram centenas de veículos leves e pesados utilizados nos ataques a Kursk, uma vitória de guerra e midiática da Ucrânia.
Os russos retomaram tudo e agora mostram o que foi conquistado, armamentos em sua maioria vindos da Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, Polônia, Países Bálticos e outros menos votados. Fato a ser usado na guerra paralela de propaganda.
O CORREIO SABE PORQUE VIU.
Estava lá. Conheci algumas pessoas da Kamchatka durante meus quatro anos em Moscou. Para os moscovitas, eram soviéticos do extremo norte e nada mais. Com as exceções de sempre, não davam muita atenção a eles. Os que conheci e convivi eram amigos de brasileiros, o que sempre era sinal de alegria e bom convívio.
Mesmo que passassem a maior parte do tempo deles no frio, eram cálidos e animados nas relações pessoais. Entre eles, e com os novos amigos. Os homens não eram altos, mas fortes.
Bebiam como quem mora na neve. E tentaram ensinar-me uma brincadeira deles: botar uma garrafinha de meio litro de vodka na boca, trincar os dentes e só cuspi-la quando estivesse seca. Faziam demonstrações, tentavam me convencer. Não conseguiram. Passei. Confesso que o medo foi mais forte.
As moças tinham tamanho médio, nem grandes nem pequenas. Mais para magras que a maioria. Alegres e bailarinas. E, não esquecer boas também de copos. Com os insumos básicos disponíveis, o resto era só alegria. Sorte que o tsunami não veio e o terremoto, mesmo poderoso, fez seus estragos no plano material.
*O jornalista foi, por muitos anos, correspondente do Correio Braziliense em Moscou