ARTIGO: Trump & Putin: Paz e pôquer no Alasca

Dois poderosos do planeta terra tentarão finalmente costurar um acordo para salvar a humanidade, região de propriedade norte-americana, que já foi russa  

Trump e Putin, Crédito: Brendan Smialowski / AFP/2018

Por Luiz Recena Grassi*

Na próxima sexta-feira (15/8), a paz pode chegar para um verão no Alasca. Dois poderosos do planeta terra tentarão finalmente costurar um acordo para salvar a humanidade. O norte-americano Donald Trump e o russo Vladimir Putin, entre afagos e ameaças, aceitaram um encontro em lugar distante, em região de propriedade americana, que já foi russa há mais de 150 anos. 

Trump quer o fim definitivo dos bombardeios russos contra a Ucrânia; o russo Putin quer o domínio dos territórios conquistados até agora e uma proibição próxima ao ad eternum para que a Ucrânia não entre nem na União Europeia, nem no seu braço armado, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Trump quer parar de vender armas para Kiev. 

A partir de agora, vende para a Otan, que receberá o material via europeus, segundo programação prévia. Quer, ainda, cobrar dívidas atrasadas e esquecidas por Volodymyr Zelensky, o líder ucraniano que não participará da reunião por absoluta falta de convite. 

E por não ter armas boas, requisito para quem quer participar de um duelo. Trump quer mais: com a bolsa de maldades tarifárias cheia, sugere acordos com a Rússia que vão desde terras raras até petróleo e derivados. 

Em outra bolsinha, menor e abarrotada de ameaças correlatas, avisa que pode punir aliados da Rússia que continuarem fazendo negócios com o Kremlin, em qualquer setor, principalmente na área de energia. 

A Índia é a primeira vítima. Putin já ligou para o líder indiano Narendra Modi; e também para o chinês Xi Jinping. Putin está a cuidar bem dos seus aliados. Precisa. Porque, no fundo, dizem os analistas, o poderoso norte-americano cor de laranja quer entorpecer os movimentos a favor da consolidação dos Brics como alternativa comercial fora do controle dos Estados Unidos e sem o uso do dólar como moeda padrão em seus negócios. 

A Rússia não quer muito mais do que já foi anunciado. Só isso deixará o Kremlin mais poderoso em relação aos países europeus, que também não irão ao duelo pela citada razão da falta de armas. A Rússia tenta abrir caminho para a redução gradual das sanções econômicas a que foi submetida desde o início do conflito armado. Quer outra vez vender petróleo e gás a bom preço para os europeus. 

Com exceção de três ou quatro grandes, os demais membros da União Europeia também querem paz e comércio com os russos. Fora do campo energético há o butim tungado da Rússia desde o início das hostilidades, um montante ao redor de US$ 300 bilhões, congelados em bancos da Suíça, da  Bélgica e de outros países menores. 

Na moldura do quadro, o presidente ucraniano Zelensky foi à guerra, mas nada garante que irá à paz. Putin e Trump dizem não ter problemas para negociar com ele, só que, agora, eles terão primeiro as conversas de gente grande. Em Tombstone, no Velho Oeste, houve um famoso jogo de pôquer antes do duelo do OK Corral. Os jogadores perdiam, pegavam as armas e iam para o OK Corral. Tudo está registrado em monumental faroeste com esse título. 

Neste duelo moderno, por enquanto há dois participantes definidos. O cacife alto impedirá a participação de quem tem poucas armas. E Zelensky ainda enfrenta um sério problema doméstico: a denúncia formal de vários casos de corrupção no governo dele. O que era discreto e reservado agora é público e faz barulho. 

Sob lei marcial desde o início do conflito, Zelensky nunca mais convocou eleições. Com a chegada do verão tudo isso apareceu e ganhou as ruas, onde as manifestações já começaram. O líder tentou esconder tudo extinguindo dois organismos especializados em descobrir as falcatruas. 

A pressão popular e internacional fê-lo recuar e restabelecer as comissões de trabalho. Mas o estrago já estava feito e o que lhe resta de aprovação pública, 51%, começa a cair. Talvez, dentro de uma semana, partes desse imbróglio estejam resolvidas. Com cinco horas de vantagem no fuso horário, poderemos seguir com calma a reunião histórica.  

O COREIO SABE PORQUE VIU. 

Estava lá. Por duas vezes tive a oportunidade de ir até a região do encontro dos titãs atuais do mundo. Não fui. A primeira, ainda no outono, bastante frio para quem vinha dos trópicos. A segunda em pleno inverno, impensável para quem vinha dos trópicos. 

Na primeira vez, com temperaturas, diziam entre oito e dez graus positivos; na segunda, poderiam atingir até 50 graus. Negativos. Impossível. Agradeci com gentileza e fui firme. Preferi resolver minha curiosidade com leituras e com o convívio, esse sim cálido, com siberianos e siberianas que moravam ou visitavam Moscou. Conheciam a região e me deram argumentos e razões para ficar na capital proseando com os amigos.

*O jornalista foi, por muitos anos, correspondente do Correio Braziliense em Moscou