ARTIGO: Surpresas na contabilidade da guerra

O custo da guerra atual anda entre US$ 200 bilhões e mais de US$ 500 bilhões, de 2022 até agora. Apenas na Ucrânia, o governo estima em US$ 179 bilhões até o momento

Um helicóptero de combate a incêndios sobrevoa um prédio residencial fortemente danificado, após um ataque em larga escala com drones e mísseis russos a Kiev em 28 de agosto de 2025 - (crédito: OLEKSII FILIPPOV/AFP)

Por Luiz Recena Grassi*

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky acha que ainda vai ganhar a guerra e pediu ajuda financeira a seus aliados europeus: US$ 1 bilhão por mês. No grupo aliado, fez-se o silêncio, quem estava de boca fechada assim ficou; quem estava de boca aberta sentiu um gosto acre e trincou os dentes. 

Dos países mais ricos, a maioria raspa o tacho para sobreviver. Os outros assobiam para um lado e correm para o outro atrás de minguados dólares que não dão para todos. Só dois deles mostram melhores condições: Alemanha e Inglaterra. Esta, com ajuda dos Estados Unidos, tenta modernizar sua defesa, ainda que se endivide mais junto ao caixa americano. A primeira mantém a tradição germânica: permanece com alguma grana própria e boa estrutura em sua indústria defensiva. 

E tem mais: conta com reservas de soldados, prontos para reforçar suas linhas de ação. Informa que tem acima de cem mil soldados prontos para atuar de imediato e que esse projeto armado pode chegar até 260 mil pessoas em armas. Trata-se de um respeitável grupo de guerreiros. Uma guerra, no entanto, não é barata. 

A guerra atual anda entre US$ 200 bilhões e mais de US$ 500 bilhões, de 2022 até agora. Apenas na Ucrânia, o governo estima em US$ 179 bilhões até este momento. O total europeu ficaria em cerca de US$ 445 bilhões. Duas são as fontes: a citada Ucrânia e o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri), entidade sueca com ajuda financeira inglesa e nórdica. É o que há de razoável para o momento. 

Nesse bolo a Alemanha, sempre mais voraz, abocanharia quase US$ 90 bilhões. Torna-se, assim, o quarto volume de gastos, atrás de EUA, Rússia e Ucrânia. As aparentes discrepâncias numéricas têm origem na divisão do montante global de verba e a relação dele com os índices percentuais. Alemanha com mais verba e menor índice orçamentário; Ucrânia, menor total de verba e maior índice orçamentário. Com maior verba e mais soldados, a Alemanha passa a ser, também, o candidato europeu mais apto a uma participação efetiva no conflito armado. E se entrar, não sairá tão rápido. 

No campo prático da batalha, Rússia e Ucrânia seguem brigando, com evidente hegemonia russa. Kiev não está de mãos atadas. Esta semana, atacou e derrubou duas pontes na região russa de Kharkiv, uma região super importante nos planos táticos e de guerra dos dois brigões. Os russos continuaram a bombardear a capital ucraniana e causaram baixas sensíveis. 

A propaganda disse que a Ucrânia foi gloriosa e a Rússia, cruel. Difícil chegar a qualquer acordo. A menos que se tenha uma predisposição anterior. Num canto do ringue, um lutador solitário e silencioso espera. Tem certeza de que será um dos vitoriosos. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é o nome dele. 

Até lá, quando ocorrem, os enfrentamentos são cada vez mais violentos. No ataque à Kiev, a Rússia bombardeou fábricas de drones da capital, o que já teria sido feito com fábricas na fronteira com a Hungria. Para não ficar longe do conflito, os Estados Unidos deram um golpe de mestre: anunciaram a liberação da compra de 3.350 drones pela Ucrânia. No valor estimado de US$ 825 milhões. 

Quase um bilhão de dólares, no sistema combinado em reuniões na Europa e nos Estados Unidos: os EUA entram com as armas, que vão para a Europa, que repassarão para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que, finalmente, mandarão para a Ucrânia. 

Não se soube a quantidade nem a velocidade com que essas armas chegarão às frentes ucranianas para serem usadas contra os soldados russos. Enquanto isso, no canto do ringue, o lutador solitário espera.

O CORREIO SABE PORQUE VIU. 

Estava lá. Naquele fim de década de 1980, Moscou não era a capital mais conectada com o que acontecia no mundo. Ao contrário disso, era meio abandonada. Tudo era complicado, principalmente na parte das comunicações. Uma deusa das variedades e do cinema e um super empresário da notícia e televisão, mudaram a situação. Jane Fonda, sempre no auge, e Ted Turner, consolidando a carreira, casaram. E festejaram em Moscou. 

Como presente de núpcias, ao contrário do normal, ofertaram aos moscovitas, mais de um mês de sinal gratuito da CNN. Foi uma revolução na mídia local. Nada mais foi como antes. Nem a cidade, nem o país, nem o comunismo. Os burocratas correram para mudar as bases do sistema. 

Diplomatas, correspondentes de imprensa, altos funcionários do regime, todos os que tivessem algum poder para mudar seus sistemas de acesso a informações melhores, o fizeram, marcando um momento histórico, como tantos outros da mesma época.

*O jornalista foi, por muitos anos, correspondente do Correio Braziliense em Moscou