ARTIGO/ Paz agora: Nova expectativa para o conflito

O fim do conflito armado Rússia-Ucrânia tem projetos de paternidade e detalhes de execução. Antes foi a terceira guerra mundial, que povoou mentes belicosas ou sem maiores informações durante um mês

Crédito: Ministério da Defesa da Rússia/DAPress

Por Luiz Recena Grassi*

O fato pode não ter ocorrido ainda. Só anunciado. É o que basta para uma parte da mídia mundial dizer que já ocorreu ou que está próximo, batendo às portas de envolvidos ou não. O fim do conflito armado Rússia-Ucrânia tem projetos de paternidade e detalhes de execução. Antes foi a terceira guerra mundial, que povoou mentes belicosas ou sem maiores informações durante um mês. Ingleses da velha guarda de armas e espionagens ainda insistem. Sem argumentos críveis. A ideia da paz começou a tomar corpo principalmente depois da eleição de Donald Trump. A expectativa de menos armas e irrigação de dólares por gotejamento reduziu o furor guerreiro de muitos aliados da Ucrânia, os que ainda têm a receber e os que acreditam em dinheiro novo antes do fim da festa. Nos dois grupos Joe, Pato Manco, Biden fez gestos natalinos: liberou o uso dos seus ATACMS e dos Snow Shadow ingleses. Alguns tiros na fronteira e pronta resposta adversária com um míssil intercontinental Oreshnik, sem ogivas, e o aviso de que tem arma nova mais letal e desconhecida, o Zircon, de médio porte, médio alcance, enorme poder devastador. Ainda para agradar, o que sai ajuntou U$ 725 milhões ao pacote natalino. Sempre um dinheiro marcado. Vai pagar as minas terrestres antipessoal, a caminho de Kiev. Há um acordo de mais de 160 países contra elas, mas Lady Di parece ter morrido em vão.

Mark Rutte, jovem e ambicioso político holandês, novo chefe da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), estreou dizendo que os aliados irão fortalecer a defesa aérea da Ucrânia. Nórdicos estão a desovar velhos aviões americanos, com o concurso de seus pilotos. Em seguida, quer sentar-se para negociar a paz. A Ucrânia aceita ceder o território já perdido. Que a Otan tome conta e force a União Europeia a esquecer entraves e deixar entrar os ucranianos. Difícil. A Alemanha quer paz honrosa. A China quer ajudar no que for preciso. O Brasil reiterou sua proposta inicial. Dentro de casa, Kiev tem mais problemas. Oficiais de combate perdem a paciência esperando mais armas, munições, mais alimentos e remédios e, sobretudo, mais soldados. O déficit ucraniano continua em torno dos dez mil homens por mês. A Rússia repõe suas perdas todo fim do mês, faz revezamento de quem estava no front, dando algum descanso aos combatentes. O governo ucraniano admitiu que os russos ainda não usaram soldados coreanos. Continuam ataques. Fecham a semana com a provável conquista de Zaporijnia, importante ponto de defesa no Donbass. Kiev defende Kursk como pode, mas já perdeu mais da metade do conquistado naquela ofensiva tão propagandeada quanto ineficaz. A Rússia continua dizendo que não quer mais negociar a paz. História para não levar a sério. Os generais chefes dos exércitos russo e americano falaram ao telefone no fim de novembro. Larga conversação. Combinaram de não abrir o jogo. Por enquanto. A ampulheta do mundo acelera até 20 de janeiro de 2025. É Donald Trump.

O CORREIO SABE PORQUE VIU. 

Estava lá. É a vez da Romênia. O Tribunal Eleitoral anulou as recentes eleições presidenciais, onde dois candidatos contrários à União Europeia passaram para o segundo turno, deixando de fora o atual presidente pró europeu e os Estados Unidos. Ganhou o candidato pró russo e isso não pode mais. Melhor não esperar o segundo turno e jogar mel no ventilador, desorganizando tudo. Diferente pode ser o destino da Geórgia, onde os pró-russos estão a ganhar e resistem ao governo central, que quer anular eleições e começar de novo, dirigido por uma presidente sem forças mas bom apoio na mídia da Europa e dos americanos. A Rússia segue a pagar contas antigas da União Soviética, seus acertos iniciais e erros posteriores, quando burocratas bolcheviques, em Moscou e Petersburgo, fecharam o regime e hostilizaram as demais repúblicas. O modelo centralizador tinha pilares sólidos trazidos do império. Aos outros coube a adesão ao centro ou a amargura periférica. Sempre menosprezados. Georgianos e povos do Cáucaso eram negociadores perigosos e sempre trataram de me passar a perna. Entre eles havia muitas histórias. Os bálticos eram nazis e, nos armênios, não dava para confiar. Houve um terremoto perto da capital, Erevan, em 1989, e a comunidade armênia de São Paulo conseguiu boa ajuda em víveres, remédios e até algum dinheiro. Levaram a Moscou e lá conseguiram um avião oficial para entregar tudo. Líder do grupo, há décadas no Brasil, explicou porque brigou para ir: “meu caro, eu preciso ver tudo, não consigo confiar no meu povo”.  Histórias que se espalharam, criaram raízes, viraram assunto nos corredores do poder central. A conta só crescia.

*O jornalista foi, por muitos anos, correspondente do Correio Braziliense em Moscou