Por Luiz Recena Grassi*
O Pentágono chamou seu contador e depois avisou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: há estoques de armas, munições, mísseis, equipamento de defesa em níveis perigosamente baixos. A redução, creditada ao ex-presidente Joe Biden e seus guerreiros, levou a uma recomendação: suspender o envio de armas para o regime ucraniano continuar sua aventura de guerra.
Acrescente-se à situação a inadimplência da Ucrânia diante das contas já feitas de compras de armas durante os pouco mais de três anos de conflito. A situação não é boa e o prejuízo só aumentou nos últimos meses. A informação mais recente ainda é do início deste ano. Sem apoio dos banqueiros ucranianos, restou aceitar condições duras dos bancos europeus.
A dívida de curto prazo estava a rondar os US$ 30 bilhões. Essa informação, na época, foi referendada por fontes inglesas e suecas. De lá para cá, não houve nenhuma notícia, apenas boatos e especulações, todos ruins para os interesses de Kiev.
Bem aconselhado, Trump suspendeu, de forma temporária, o envio de armas e de todo o pacote que os Estados Unidos vinham mantendo para ajudar os ucranianos na própria defesa. Não fixou prazos para voltar a dar suporte armado para a Ucrânia. No máximo, acelerou seus acordos sobre exploração de terras raras.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, registrou o golpe. Chorou, resmungou e correu para os aliados europeus, pedindo mais proteção. Com grandes dificuldades econômico-financeiras, além de várias crises políticas domésticas, os europeus fizeram cara de paisagem.
Repetiram discursos de apoio político, não desembolsaram nada além de promessas. Igual a momentos anteriores. É possível que Alemanha e Inglaterra mandem algumas armas de defesa, mas nada em volume capaz de tornar mais forte a situação atual do exército de Kiev.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) anunciou que a Alemanha vai gastar 25 bilhões de euros em armas e equipamentos. Mas não é para a Ucrânia. É para fortalecer os estoques da Otan.
Trump e o presidente russo, Vladimir Putin, voltaram a falar pelo telefone no meio da semana. Mais de hora. Após a conversa, a Rússia fez mais um ataque maciço contra os arredores de Kiev e outras regiões.
Os ucranianos apanham mas não se entregam. E continuam suas ações pontuais, quase guerrilha. Mataram um general russo e atacaram arredores de Moscou. A mídia amiga aplaudiu o feito.
Na mesma ocasião, um celebrado “herói patriota” brasileiro perdeu uma perna ao pisar a mina da Ucrânia que ele estava a defender. Voltou para sua condição original de mercenário e não se falou mais nisso.
O fato ocorre no momento em que Polônia, Ucrânia, as bálticas Estônia, Letônia e Lituânia, e ainda a Finlândia, manifestaram formalmente suas intenções de abandonar o Tratado de Otawa, aquele que justamente proíbe o uso de minas terrestres antipessoal, principalmente em situações de guerra. Juntos eles querem fazer um corredor de defesa de suas fronteiras com a Rússia. Seriam 1.200 km de terrenos minados.
Na mesma semana, uma importante reunião ocorrida em Bruxelas chamou a atenção: o ministro das relações exteriores da China, Wang Yi, disse claramente a Kaja Kallas, sua homóloga da União Europeia, que a potência asiática não vai permitir uma derrota da Rússia no atual conflito.
Isso seria, na visão chinesa, fortalecer os Estados Unidos e trazer ainda mais dificuldades para os chineses no relacionamento deles com o mundo. Na mesma reunião, Wang Yi voltou a negar que a China esteja apoiando, na prática, as forças de defesa da Rússia, com o envio de armas, por exemplo. De perfil bom no conflito apenas mais um gesto: houve novas trocas de prisioneiros entre Rússia e Ucrânia.
O CORREIO SABE PORQUE VIU.
Estava lá.Erasmo Dias, coronel da Polícia Militar (PM) paulista e secretário de Segurança estadual, chegou a deputado federal e levou para Brasília toda sua truculência. Durou pouco nesse papel. A Câmara absorve até os mais radicais e quem for sensível tira proveito. Isso aconteceu com Erasmo, protagonista de boas histórias.
Entre elas, uma viagem de representação oficial à extinta União Soviética, para acompanhar as exéquias de um líder do país. Voltou encantado. Elogios ao regime, ao governo e a Moscou. Cidade limpa repetia.
O que mais gostava era de elogiar o sistema de passaporte interno para os moradores. Sem isso, não se podia morar em Moscou. Ou mudar para a capital quando se quisesse. Pensou em adotar o modelo em São Paulo. Não conseguiu convencer ninguém.
Conheci um estrangeiro que morou mais de dois anos assim, marginal e sem documentos. Sempre fugindo, se escondendo. Disse-me que não foi boa a experiência. Aos estrangeiros não se exigia mais esses procedimentos. De todo modo, tínhamos que informar sobre qualquer viagem, mesmo a passeio no interior do país. Não arrancava pedaços. Só era desagradável.
*O jornalista foi, por muitos anos, correspondente do Correio Braziliense em Moscou