Por Luiz Recena Grassi*
Se houver corpo tem dinheiro; se não houver cadáver não tem dinheiro. A frase é tão velha quanto dura e cruel. Mas repetida à exaustão nos últimos dias, pelos analistas europeus do conflito entre Rússia e Ucrânia. Tudo começa após novo acordo de troca de prisioneiros, com a inclusão da devolução de corpos de soldados mortos dos dois lados. A Rússia mandou parte de sua quota para a fronteira, mas os agentes ucranianos não quiseram aceitar.
Os soldados vivos e feridos foram acolhidos; os mortos permaneceram à espera, em caminhões frigorificados, especiais para a tarefa. Assim passaram o fim de semana. Foram vistoriados pela Cruz Vermelha grupos de jornalistas estrangeiros. Eram 1.212 corpos.
Na alta política, a autoridade de Kiev disse que a Rússia foi muito rápida, forçou a barra, fez proselitismo político. Ou seja, Volodymyr Zelensky perdeu uma batalha de mídia, para ele coisa pior do que os maus resultados bélicos que enfrenta a cada dia. Por fim, os mortos conseguiram passar a fronteira e ser entregues a seus entes queridos.
Começava um novo momento: a segunda morte de cada um deles. As famílias entram, agora, em processo de provas de que eles são eles, que foram à guerra e lá morreram. Fazem jus, portanto, ao subsídio pecuniário que existe na lei do país. O governo, porém, parece não ter, ainda, previsto verba para indenizações. A quantia a repassar é um segredo de Estado.
Cálculos só foram feitos a partir de dados aleatórios, especulativos. Foi usado o salário mínimo de cerca de US$ 200, o que daria U$ 2.400 por soldado/ano. Cerca de U$ 3 milhões como primeiro desembolso do governo para as famílias dos que atravessaram a fronteira. Depois é preciso calcular a expectativa de vida e os postos e patentes de cada um dos soldados. Uma escala ascendente cuja fonte de suprimento não foi revelada. O governo da Ucrânia não tem planos para resolver essa delicada situação.
A Rússia, que ainda não recebeu 50 corpos, tem um salário mínimo maior, cerca de U$ 300, e provisões de caixa mais sólidas. A situação difícil, mesmo, fica para a Ucrânia e seus mortos. O primeiro milhar que passou a fronteira vai dar o tom. Agora, existe cadáver, portanto, deve aparecer dinheiro. Para a guerra existe: são U$ 65 bilhões no orçamento ucraniano e U$ 150 bilhões no orçamento russo. A Polônia tem U$ 35 bilhões, e os Estados Unidos, mais de U$ 300 bilhões. Para matar parece não haver dificuldades. Estas só aparecem na hora de indenizar as famílias das vítimas.
No lado dos falcões e seus aliados, a movimentação é toda em prol do rearmamento da Ucrânia e investimentos em Defesa em todos os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Na União Europeia, a chefe Ursula Van der Leyen, anunciou mais um bilhão de euros (U$ 1,1 bilhão de dólares), de desembolso rápido, para tirar a Defesa ucraniana do sufoco. O dinheiro ainda não chegou. O secretário executivo da aliança, Mark Rutte, passa, várias vezes, a sacolinha para ver se consegue verbas para o organismo e convence os países membros de investirem e abrirem seus cofres. Tudo para ajudar a Ucrânia a enfrentar a Rússia.
Mark Rutte é falacioso e diplomaticamente covarde, na opinião do analista português Thiago Lopes, da CNN, que não é pró-russo, para explicar que Rutte está a fazer tudo para gerar uma falsa expectativa para a Ucrânia: o ingresso na OTAN. Todos os líderes importantes europeus já desconversaram sobre a hipótese. E, nos EUA, Trump também. Pelo menos, agora, a Ucrânia não reúne condições mínimas para entrar no clube. Embora tenha eventuais brilhos na guerra de guerrilhas contra alvos em território russo. O que não muda o quadro: a Rússia tomou vários vilarejos nas regiões de Sumy e Donetsk. Continua a apertar o nó em torno de Kiev.
O CORREIO SABE PORQUE VIU.
Estava lá. O verão é uma estação dura para estudantes latinos em Moscou. Não há dinheiro para passeios. O pouco deve ser guardado para a volta. Na maioria das famílias pobres, eles aceitam qualquer trabalho que lhes permita economizar. Quase sempre na área de tradução para estrangeiros que passavam por lá.
Cris era colombiana. Entrava no seu último ano de curso e pensava nas malas e no que levar para casa. Cuidar de dois aborrecentes brasileiros não seria tão difícil, mesmo com a barreira idiomática. Essa não foi mesmo um problema. Ela sabia um pouco de português; eles outro pouco de espanhol.
Uma viagem mal sucedida para o mar Negro não derrubou a liga. Na volta a Moscou, aí sim, quase o caldo entorna. Papai foi buscar as “crionças” no parque mais animado da cidade, o Gorki. Ao chegar quase desmaiou: os três corriam abraçados pelos jardins. Abraçados em uma …. COBRA! Sem raça, sem dentes nem veneno, não importa. Já pra casa! E, companheira, chegando lá, reunião para avaliar o ocorrido e pensar no futuro. Não ocorreu nada. Os meninos salvaram a unidad de las Américas.
*O jornalista foi, por muitos anos, correspondente do Correio Braziliense em Moscou