ARTIGO: Dois é quase sempre maior do que um

O desequilíbrio atual dos pratos nasce e se cria a partir da redução, drástica, do apoio dos governos, dos Estados Unidos e europeus, e da sensível redução na entrega das armas e meios prometidos aos ucranianos no inverno passado

crédito: Sergei Chuzavkov/AFP/DAPRESS

Por Luiz Recena Grassi*

Uma guerra em Israel pode ser igual a outra na Ucrânia. Duas guerras em Israel, ao mesmo tempo, fazem volume maior do que uma na Ucrânia. E os pratos da balança de apoio tendem a mostrar desequilíbrio. Contra a Ucrânia. O desequilíbrio atual dos pratos nasce e se cria a partir da redução, drástica, do apoio dos governos, dos Estados Unidos e europeus, e da sensível redução na entrega das armas e meios prometidos aos ucranianos no inverno passado.

Nada foi cumprido integralmente. Boa parte do dinheiro foi retida para pagar dívidas anteriores. A entrega de armas novas atrasou porque os fornecedores não querem se desfazer de seus estoques e não confiam mais no exército de Volodymyr Zelensky, mesmo com as pequenas vitórias recentes. Na parte política, Kiev continua a pedir, dinheiro principalmente. No operacional, o governo não conseguiu permissão para disparar mísseis hipersônicos contra Moscou e o território russo. Os britânicos também não. Enfim, os apoiadores podem ser ousados, até doidos, mas não rasgam um bilhete de cem dólares.

A Alemanha encerrou a reunião da última semana prometendo 600 milhões de euros a Ucrânia. Não informou condições ou prazos. Informou ainda que os demais parceiros europeus entrarão com mais 1,2 bilhão de dólares. Não disseram quem dará quanto ou quando isso acontecerá. Nem que tipo ou quantidade de armas será repassado. Os ucranianos ganharam pontos ao comemorarem dois meses da conquista e manutenção de boa área da região de Kursk. Vladimir Putin já adiou duas vezes a data de retomada. Está difícil. Nas hostes do Kremlin comemora-se a conquista quase total da região do Dombass. Esse “quase” poderá dar ainda muitas cartas no jogo.

A Rússia sabe disso e aumenta a pressão. Dobra a produção de aviões de guerra daqui até o fim do ano. Às próprias custas. Com discreto apoio da China e não tão discreto do Irã dos aiatolás. Coreia do Norte mantém produção e entrega de drones e munições de todos os tipos para a Rússia. A guerra de informações continua bastante desconfiável. Não se sabe quantos soldados morreram no conflito até agora. E a substituição deles se dá de forma lenta na frente ucraniana e mais rápido na frente russa.

Na avaliação pró-ucraniana, o Kremlin reduziu estoques de armas e munições. A relação homens-armas, que era de oito a dez para um, pró-Rússia, teria caído para três a quatro por um. Melhorou? Não! Continua difícil o quadro geral. E o inverno bate às pesadas portas eslavas. O dinheiro dos Estados Unidos para guerras ficou curto no momento. E ainda tem um furacão de 60 bilhões de dólares para pagar. A bufunfa vinha diminuindo, agora piorou. Então chegou a vez do “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Israel é aliado bem mais antigo e sócio dos americanos em muitas empreitadas. A Ucrânia não tem esses laços todos. E os que têm são novos e frágeis. Israel, então, é um provável vencedor. A Ucrânia não. A aposta, com resposta clara, não reserva, não desenha um futuro risonho para Kiev.

O CORREIO SABE PORQUE VIU.

Estava lá. O verão em Moscou costuma pregar peças aos moradores. Este ano aumentaram os dias bonitos, mais longos e com sol. Deu para relembrar velhos passeios, como animadas viagens pelo Volga. Para banhos no rio e degustação caviar preto fresquinho, em quase todos os seus tipos e a bom, ótimo preço. Passeio divertido, saboroso. De matar de inveja os amigos distantes. Sinais de normalidade frágil, mas que reforça o desejo de dias melhores a curto futuro.

É momento de despedidas dos dias longos e celebração dos primeiros sinais da chuva e da neve. O gelo aparece mais denso, mas a energia dos jovens permite vê-los a caminhar de braços dados pelos parques, com botas leves, cantando canções antigas e dos tempos das guerras que souberam pelos livros. Antes a caminhada terminava em pequenas farras na casa de alguém. Hoje ninguém sabe ou adivinha.

*O jornalista foi, por muitos anos, correspondente do Correio Braziliense em Moscou