Por Luiz Recena Grassi*
Agora pode ser notícia: há soldados norte-coreanos sendo treinados na Rússia. O maior grupo estaria em Novossibirski, Sibéria; o menor em área mais próxima de Kursk, onde a Ucrânia invadiu e fez um pequeno enclave, o maior erro cometido em quase três anos de conflito segundo analistas militares europeus que colaboram com a CNN e generais americanos da reserva, ainda a trabalhar para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A ideia de Volodimir Zelensky de fortalecer-se para a negociação da paz não criou raízes.
A estridência da propaganda ocidental no momento é para saber se, quando e como esses soldados irão combater. O pentágono diz que não demora, mas seus generais estão a trabalhar mais com olfato e sonho do que com informação. Tem sido assim desde o começo. A União Europeia e a Otan já teriam visto e filmado os coreanos, treinando com fardas russas. Nem mesmo ingleses, os melhores da informação, confirmaram as imagens vindas da Ucrânia. Juntando tudo, Zelensky disse que vai exterminar os novos guerreiros.
É blefe. Neste momento os generais de Kiev estão mais preocupados com que ainda está no front. Muitos estão morrendo, fugindo ou se rendendo aos russos. O Parlamento apertou a lei de convocação obrigatória, o que provocou nova fuga de civis. Entidades de apoio informam que supera dez milhões o número de refugiados ucranianos na Europa. Zelensky bateu o pé e reclamou esta semana: não recebeu nem dez por cento do que foi prometido a ele nos Estados Unidos, no começo deste ano. Seu Plano para a Vitória virou delírio, contam analistas europeus. A UE perde a paciência com o líder de Kiev. O quadro se repete: muitas promessas de verbas e armas, anunciadas e não entregues.
Enquanto isso a Rússia continua a conquistar aldeias na região do Dombas, principalmente. Também esta semana observadores registraram um aumento de velocidade nos ataques das tropas de Moscou, a prever um outono difícil e um inverno mais ainda. A Coreia do Norte diz que seus homens estão sendo treinados para uma futura guerra, (contra o Sul). Os russos dizem pouco, repetem que estão a cumprir o acordo com a Coreia do Norte. Ao contrário da Ucrânia, que teria perto de 20 mil soldados estrangeiros em suas fileiras. Mais de 50 países seriam fornecedores de gente. São mercenários ou contratados por empresas internacionais de segurança, uma espécie de senhores da guerra que usam black tie. E, como um pesado pano de fundo, uma cortina de teatro antigo emoldura a situação: uma renhida, errática eleição para presidente dos Estados Unidos, mais um acontecimento anglo-saxão arrogante com suas regras únicas, surpreendentes, com resultados que poderão espantar o mundo. E influir no conflito do Cáucaso.
O CORREIO SABE PORQUE VIU.
Estava lá. O presidente Vladimir Putin gosta de se ver como o guardião dos impérios russos, desde os tempos dos boiardos, passando pelos Romanov até chegar aos bolcheviques soviéticos do século 20, estes últimos defenestrados. Trata-se agora de restaurar o possível. Com viés imperial. No final de outubro comemorou com desfile militar vitórias do passado. Destaque para a Segunda Guerra Mundial. Putin saiu do protocolo e puxou veteranos e caminhou com eles na Praça Vermelha, para desespero da segurança.
O correspondente foi a um desses eventos. Manhã chuvosa de outono, o carro parou para saber meu destino. Acertado o preço, lá fomos. O dono do carro vibrou ao saber que era brasileiro. Declarou-se fã de carteirinha e fez uma revelação: “fui o único lateral esquerdo no mundo que não bateu em Garrincha, era meu ídolo, porque machucá-lo após levar um drible genial?” Era Boris Kuznetsov e tinha jogado mesmo em 1958, na Suécia. Perto da Praça Vermelha as barreiras indicavam os limites paras os carros. Com pena tentou explicar o que ocorria. Mostrei as credenciais e o convite/passe para a Tribuna da Imprensa. Ele disse: você é importante, chegaremos mais perto. E assim foi. A paixão pelo futebol e pelo Brasil é presente e duradoura. Começa nos tempos de um dos impérios. Do povo aos líderes, o orgulho russo não desaparece.
*O jornalista foi, por muitos anos, correspondente do Correio Braziliense em Moscou