Por Luiz Recena Grassi
O lado negro da lua. Pode ser o próximo objetivo a ser enfrentado e conquistado pelos Estados Unidos depois de eleger Donald Trump. The Dark Side of the Moon, o disco da banda inglesa Pink Floyd, fez 50 anos em 2023 entre os maiores sucessos do rock mundial. A música principal fala de maldades, misérias humanas. Cumpriu o seu papel. O conjunto de fatores, todos eles, amalgamados na campanha que deu mais uma vitória a Trump, dá a ele e seus amigos terráqueos, o sinal verde para uma aventura sem precedentes, que pode trazer progresso ou muito, muito sofrimento. A dialética da história, essa sim implacável, avisa o chegar de novos, desconhecidos elementos no terreno do capitalismo selvagem, vencedor do comunismo. Mas o lado negro precisa enfrentar o prosaico dia-a-dia de guerras e dificuldades.
No item Rússia-Ucrânia a sorte lançada está a consolidar-se: a Rússia avança cada vez mais e rápido sobre o território ucraniano. A defesa da Ucrânia, disseram ingleses e franceses essa semana, se desmorona e não tem reposição. Tudo indica que há soldados norte-coreanos lutando ao lado dos russos. Não se sabe se lutarão na frente, na espera, ou atrás auxiliando na logística. Vários analistas financeiros lembram que o eleito já avisou: não tem mais verba para mandar a Kiev. Joe “pato manco” Biden, daria cinco bilhões de dólares, ou três, ou dois e não se fala mais desde que chegue algum capilé para pagar mercenários e segurá-los um pouco mais. Os alemães foram a Kiev dizer que estarão com a Ucrânia até o fim, apoiando com alguma logística, sem dizer qual. Dinheiro não é. O da União Europeia era pouco e acabou. A ministra das relações exteriores teria dito isso a Zelensky. Analistas pró-russos garantem que Annalena Baerbock, ministra das Relações Exteriores da Alemanha, disse que ele trate de negociar e abra iniciativa de paz. O líder indicou que é amigo do eleito e já teve boas conversas com ele. Sinalizou que poderia conversar e que o plano Brasil-China, no início escorraçado, voltou.
O presidente russo Vladimir Putin fez sinais a Trump: quer restabelecer antigas relações e fazer a paz. Com o mapa atual. Militares norte-americanos, que atuavam como conselheiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e passaram para a reserva, contaram a jornais dos EUA e da Inglaterra, que os dias estão muito difíceis. A mobilização de mais soldados não acontece como queria Kiev. Homens e jovens adultos fogem para não morrer. Agências da Organização das Nações Unidas (ONU) estimam em 12 milhões o número de ucranianos refugiados ou em fuga. Seria hora da paz. Enquanto isso, Putin vai aumentar verbas de defesa para seis por cento em 2025. Prevê três por cento de crescimento da economia em 2024. Invejável diante do quadro europeu nas finanças e no comércio. O lado negro pode já estar no céu da Europa.
O CORREIO SABE PORQUE VIU.
Estava lá. A primeira vez que estive no hotel Ucrânia de Moscou ainda não era correspondente, mas representante do Brasil em reunião sindical mundial. O prédio chama atenção, imponente. O quarto individual, amplo, dava para dois camaradas. Estrutura de refeições grande e eficiente. À noite jantar com música ao vivo e direito a dançar e trocar palavras com simpáticas moças russas ou ucranianas, sucessos na época. Se o entendimento aumentava, poderia haver convite para conhecer a casa delas, sempre bem longe do hotel. Precisava de coragem que não tive… Pausa a cada 40 minutos e encerramento às onze meia. Em ponto. Para não perder o último metrô, à 1h da madrugada. A segunda vez, a convite do governo soviético, conheci uma suíte, 40 metros quadrados e apoio de inspiração art nouveau. Tinha pequenas lojas no térreo para comprar lembranças. O jantar continuava igual e as moças simpáticas ainda estavam lá, sob pesados esquemas de controle. Convite oficial, comportamento exemplar. Morando lá indiquei e frequentei mais. Refeições sempre impecáveis. Música já sem noite certa. As moças continuavam, mais agressivas, na abordagem e acordo pecuniário. Padrão reservado para jovens empresários americanos e europeus. O fim soviético não mudou-lhe o nome rapidamente, mas não teve jeito. Hoje tem nome inglês e é internacional. Ficou muito caro e fora dos serviços de turismo. Está lá, só não existe. Guerra e sanções congelaram-no. Parte da vida moscovita morreu.
*O jornalista foi, por muitos anos, correspondente do Correio Braziliense em Moscou