Após Copom, analistas passam a prever juros de até 15% em 2025

Após o Banco Central dar uma paulada de 100 pontos-base na taxa Selic, analistas não descartam que juros cheguem a 15% em 2025 devido, principalmente, à deterioração da confiança no governo

Crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press. Homem olha engrenagens com cifrão.

O Banco Central decidiu, por unanimidade, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), elevar a taxa básica da economia (Selic) em 1,00 ponto percentual, para 12,25% ao ano, e ainda indicou duas altas na mesma magnitude nas primeiras reuniões do próximo ano, o que levaria os juros básicos para 14,25% ao ano até março, em grande parte, devido à piora nos cenários interno e externo. Por conta disso e da deterioração da confiança do mercado na capacidade do governo fazer um ajuste fiscal, analistas não descartam que a Selic chegue a 15% na segunda metade de 2025.

Ao ver o Banco Central piorar as projeções para a inflação até o “horizonte relevante”, considerado agora o segundo trimestre de 2025, de 3,6% para 4% — acima do centro da meta, de 3%, com teto de 4,5% –, analistas voltaram para suas planilhas e estão revisando as projeções para a taxa Selic ao longo de 2025.

Conforme levantamento da MoneYou, apenas 20% do mercado esperava alta de 0,50 ponto percentual. A maior parte, 47%, apostavam em alta de 0,75% e 43% esperavam alta de 1,0 ponto percentual. Entre eles, estava o time de time de macroeconomia da XP Investimentos. Liderada pelo economista-chefe Caio Megale, a equipe da XP que previa alta de 100 pontos-base na Selic, e, agora, passou a prever a Selic terminal em 15% ao ano, uma vez que o Comitê evitou sinalizar uma taxa de juros terminal do ciclo de aperto monetário iniciado em setembro. “Se o cenário permanecer desfavorável, o ciclo de aperto monetário provavelmente continuará após isso”, afirmou o relatório da XP.

A instituição ressaltou que a nota do Copom argumentou que “o ambiente global permanece desafiador” e que os riscos inflacionários domésticos se materializaram e concluiu ainda que “o cenário se mostra menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior”. “Segundo o comunicado, é necessária uma ‘política monetária ainda mais contracionista’. Concordamos plenamente”, argumentou o documento da XP. Enquanto o Banco Central projeta inflação de 4,9%, para 2024, e de 4,5%, em 2025, a entidade já estima que o índice de carestia está bem perto de 6%, para 2025, o dobro da meta, devido às pressões inflacionárias. Para os analistas da XP, a mensagem dura do comunicado “sugere que o plano de voo do Copom considera juros para além disso”.

“Ainda acreditamos, porém, que, com essa estratégia mais concentrada no curto prazo, a política monetária ajudará a esfriar a economia e estabilizar o câmbio, o que provavelmente ficará evidente até maio do próximo ano. Assim, não vemos necessidade de uma taxa terminal muito acima do nosso cenário atual”, acrescentou. Na avaliação da XP, o Copom pode optar por uma elevação adicional em junho para concluir o ciclo. A instituição ainda vai rever as projeções macroeconômicas de forma geral, para incorporar essa política monetária mais restritiva. A previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2026 – atualmente em 4,5% – “agora apresenta um claro viés de baixa”.

O economista e consultor André Perfeito, também prevê que os juros básicos devem chegar a 15% ao ano em 2025. Segundo ele, após elevar a Selic até 14,25 % ao ano, em março, como o Copom sinalizou no comunicado, a autoridade monetária deverá desacelerar as altas antes de interromper o ciclo nas reuniões seguintes, com um aumento de 0,50 ponto percentual, e depois, um um final de 0,25 ponto percentual. desacelerar as altas com uma alta de 50 pontos e depois uma final de 25 pontos.

Na avaliação de Perfeito, o Banco Central acertou ao realizar um choque de juros mais forte. “Mantenho o cenário da Selic chegando a 15% ao ano em 2025, contudo, não tenho tanta certeza nessa hipótese de que os juros poderão continuar nesse patamar até dezembro. Se, de fato, o real se apreciar nem que de maneira modesta, os modelos dos economistas devem apontar alguma desaceleração da inflação”, explicou. 

O sócio-diretor da MAG Investimentos, Claudio Pires, avaliou a decisão do Copom como “surpreendentemente positiva”, porque o mercado deteriorou-se bastante após o frágil anúncio da tentativa de redução de gastos e o arcabouço fiscal não vem trazendo confiança para o mercado. “São seguidos os deficits fiscais e, a partir do momento em que 2025 já deveria entregar algum suparávit, seria muito difícil que esta meta fosse alcançada com a redução anunciada”, afirmou. Para ele, a medida classifica que o recente anúncio fiscal foi “aquém do necessário e afetou demais os preços dos ativos e as expectativas dos agentes financeiros nas projeções de inflação à frente, adicionado à isso ainda tivemos a forte desvalorização do real”.  “Com essa decisão, o Banco Central se mostra firme no propósito de fazer a convergência da inflação para a meta e se mostra à frente do mercado, não estando mais atrás da curva”, afirmou.