Após chegar a R$ 6,11, dólar recua com falas de Lira e Pacheco

Impacto negativo do pacote fiscal do governo segue impactando no câmbio e dólar dispara, chegando a R$ 6,11 na manhã desta sexta-feira, mas recua após declarações de Lira e Pacheco sobre deixar para depois a reforma do Imposto de Renda

This ilustration shows a man counting US dollars in Caracas on January 28, 2019. Venezuela devalued its currency by almost 35 percent on Monday to bring it into line with the exchange rate of the dollar on the black market. The exchange rate is now fixed at 3,200 bolivars to the dollar, almost matching the 3,118.62 offered on the dolartoday.com site that acts as the reference for the black market. / AFP / YURI CORTEZ

Enquanto o governo adia o envio ao Congresso da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do pacote de cortes de gastos de cerca de R$ 70 bilhões até 2026, o mercado financeiro segue nervoso e menos empolgado com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O dólar chegou a bater a cotação recorde de R$ 6,11, na manhã desta sexta-feira (29/11), e só recuou depois das declarações dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD) e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Eles reforçaram que a ampliação da isenção do Imposto de Renda ficará para depois do pacote.

Apesar de o titular da equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter falado por sete minutos em rede nacional quando anunciou o pacote de corte de despesa, e, ao mesmo tempo, uma medida na contramão, que ampliará a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês, a forma de como foi feito o anúncio não agradou e gerou desconfianças sobre o prestígio de Haddad no primeiro escalão e sua capacidade para conseguir reequilibrar as contas públicas e conter a trajetória de crescimento da dívida pública.

Pacheco afirmou, por meio de nota, que o aumento da faixa de isenção do IR para quem recebe até R$ 5 mil “não é pauta para agora”. Pouco antes, Lira escreveu nas redes sociais que o debate sobre a isenção do IR “até R$ 5 mil “só será votada em 2025”. Após as duas declarações, o dólar recuou no início da tarde para mais perto de R$ 6. Enquanto isso, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) operava no azul, após dois dias de perdas que somaram R$ 172,9 bilhões. Às 13h57, apresentava alta de 0,48%, a 125.211 pontos.

“O pacote de corte de gastos demonstra que o governo não tem articulação. Durante o mês inteiro, ele negociou medidas para buscar o equilíbrio fiscal e não conseguiu. Os ministros conseguiram manter temas fora do texto final e as contas sobre a economia do pacote foram foi mal recebidas. O curioso é que o mercado iniciou novembro esperando um corte entre R$ 35 bilhões e R$ 50 bilhões, surgiram rumores de R$ 15 bilhões, o que fez o mercado aceitar R$ 35 bilhões. Mas o próprio governo deixou vazar os R$ 70 bilhões e ficou refém desse número”, destacou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. “O mercado viu que a conta do impacto das medidas anunciadas pelo ministro não chega a R$ 70 bilhões e ainda ficou preocupado, porque o governo afrouxou o ajuste fiscal com a mudança do Imposto de Renda”, acrescentou.

De acordo com analistas, o mercado vai ficar mais atento às falas de Lira e de Pacheco do que de Haddad e, os dois tentaram acalmar um pouco os ânimos dos agentes financeiros enquanto o ministro participava de um almoço com o setor financeiro, organizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Lá, ele reforçou o mantra de que a equipe econômica está “totalmente comprometida com o equilíbrio fiscal”. Segundo ele, é fácil falar “faz o ajuste”. “Não estou fazendo o ajuste por concessão a ninguém, faço porque acredito nele. Não vamos conseguir nenhuma bala de prata”, declarou.

“Sem a liderança e apoio de Pacheco e de Lira, o governo não aprova algumas coisas boas do pacote, mas ainda são insuficientes para reverter a trajetória de aumento da dívida pública bruta, sem corte garantido de gastos”, destacou Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos. “O que Pacheco e Lira disseram é bom, pois só aprovarão a isenção para quem ganha R$ 5 mil do IR se, efetivamente, ficar garantido que terá outra receita para financiar ou corte de gastos”, acrescentou.

Para Gustavo Cruz, da RB, Haddad continua sendo visto como o nome mais forte no PT para suceder Lula. “Ele teve sete minutos de exposição em rede nacional, em pleno ritmo de campanha. Querendo ou não o pacote de corte de gastos saiu e o nome do novo presidente do Banco Central (Gabriel Galípolo, ex-secretário-executivo da Fazenda) foi o que ele quis. Mas ele não é inatingível. Talvez o mercado esteja menos empolgado com Haddad, no momento”, avaliou.