Analistas estrangeiros alertam para “frustração” com nova política industrial

ROSANA HESSEL   A nova política industrial anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, nesta semana, prevendo R$ 300 bilhões em financiamento, especialmente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e focada na “reindustrialização” do país, tem deixado analistas de instituições estrangeiras que acompanham a economia […]

ROSANA HESSEL

 

A nova política industrial anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, nesta semana, prevendo R$ 300 bilhões em financiamento, especialmente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e focada na “reindustrialização” do país, tem deixado analistas de instituições estrangeiras que acompanham a economia brasileira bastante céticos sobre o verdadeiro impulso na economia. Para eles, haverá frustração, porque o pacote terá baixo impacto na produtividade e na atividade econômica do país, pois, no passado, ações semelhantes do governo petista também não melhoraram a produtividade do país.

 

“O anúncio do governo brasileiro de um novo plano industrial aponta para uma maior intervenção estatal na economia que pouco fará para aliviar o problema de produtividade do país”, alertaram os economistas William Jackson e Jason Tuvey, especialistas em mercados emergentes da Capital Economics. Pelas estimativas deles, o volume de financiamento equivale a cerca de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

 

O pacote envolve incentivos fiscais, apoio governamental via compras públicas com o objetivo de melhorar a infraestrutura, a agroindústria, saúde, entre outras coisas, mas embora eles admitam que esses são objetivos importantes, “a política industrial dirigida pelo Estado tem um histórico fraco no Brasil”. “Os dados acadêmicos sugerem que os empréstimos do BNDES tiveram um impacto positivo no investimento, nas exportações e no emprego das empresas, mas pouco impacto na produtividade e rentabilidade das empresas”, alertou o documento. 

 

De acordo com os analistas, as políticas públicas de Lula nos anos 2000, em especial, as do segundo mandato, quando os desembolsos do BNDES aumentaram, tiveram pouco efeito na melhora da produtividade do país. “O Brasil conseguiu aproveitar o boom dos preços das matérias-primas, o que mascarou o fato de o crescimento da produtividade permanecer fraco. A produtividade tem sido prejudicada por uma série de fatores que vão desde uma mão-de-obra pouco qualificada até elevadas barreiras comerciais”, reforçaram os analistas.

 

“Embora tenha havido apenas uma pequena oscilação nos mercados financeiros do Brasil após o anúncio do plano, isso sugere que as esperanças de novas reformas pró-mercado após a reforma fiscal do ano passado provavelmente serão frustradas. E o crescimento potencial da economia permanecerá fraco”, completaram Jackson e Tuvey, em relatório para os clientes, nesta sexta-feira (26/1), ao qual o Blog teve acesso.

 

Os economistas Fabio Ramos, Alexandre de Azara e Rodrigo Martins, do banco suíço UBS, também não pouparam críticas à nova política industrial do governo Lula. Segundo eles, o pacote não empolgou investidores. “Não esperamos um grande impacto do plano a médio prazo, principalmente, porque o Tesouro Nacional não pretende financiar mais o BNDES”, destacou.  Segundo eles, o financiamento do BNDES como porcentagem do PIB diminuiu de cerca de 10%, em meados da década de 2010, para cerca de 3,5% a 4%, atualmente.

 

Os analistas do UBS lembraram que o real e a Bolsa brasileira enfraqueceram após o anúncio mostrar que não há dinheiro novo no pacote. “O governo divulgou um documento detalhando os objetivos do plano, com foco em recursos para financiar exportações, produtividade da produção, produção farmacêutica, mobilidade, infraestruturas gerais e inovação. Ao apontar fontes de financiamento, quase todo o valor refere-se a dinheiro já dentro do orçamento atual do BNDES”, acrescentaram.

 

Elogios do setor produtivo

 

Na contramão dos analistas, entidades do setor produtivo como a Confederação Nacional da Indústria ( CNI), a Federação das Indústrias dos Estado de São Paulo (Fiesp) e Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) elogiaram a iniciativa. Em nota, a Fiesp informou que  a medida deve ser aplaudida porque “é a demonstração de que o governo federal reconhece a importância da indústria de transformação para colocar a economia brasileira entre as maiores do mundo”. Para a Firjan, a nova política industrial é “apropriada para o atual momento socioeconômico” do país. 

 

O presidente do Sindicato Nacional da Micro e da Pequena Indústria (Simpi), Joseph Couri, também elogiou as medidas que, para ele “representam um impulso significativo para fortalecer a micro e pequena indústria”. “A Nova Indústria Brasil emerge como uma trajetória promissora. Com o financiamento de 4% ao ano e spread bancário de no máximo 2% ao ano, espera-se não apenas viabilizar um ritmo semelhante ao do agronegócio, mas também aumentar consideravelmente a capacidade de competitividade internacional”, disse.