O Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará, amanhã (4/12), o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre do deste ano, e as estimativas de analistas indicam que a atividade econômica praticamente estagnou na margem (em comparação com o trimestre anterior). De acordo com os analistas, no segundo semestre deste ano, após apresentar avanços na margem de 1,4% e de 0,4% no primeiro e no segundo trimestre de 2025, respectivamente, o PIB deve sentir mais os efeitos da política monetária que tem sido bastante restritiva, que estão sendo sentidos, principalmente, no crédito e no consumo.
As projeções dos economistas ouvidos pelo Blog variam de queda de 0,2% a crescimento de 0,3%, na margem. O Banco Central tem mantido a taxa básica da economia (Selic) em 15% ao ano, desde junho, e o consenso do mercado é de que não haverá mudanças neste ano, quem sabe no comunicado do colegiado. Os analistas não têm dúvidas de que, se não fosse a política expansionista do governo – que segue com estímulos fiscais no crédito e nos benefícios sociais, que estão contribuindo para a manutenção do crescimento do consumo das famílias, apesar de elas estarem bastante endividadas –, o resultado do PIB neste ano seria pior. Atualmente, a mediana das estimativas do mercado para o PIB deste ano está em 2,16%, patamar próximo das projeções feitas no fim de dezembro de 2024, de 2,01%.
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, nesta semana, reforçou o discurso conservador e declarou que o impacto da política monetária na atividade ainda é menor do que o esperado, sinalizando que não deverá dar um cavalo de pau na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). E, assim, confirmando o consenso do mercado de que o início da queda dos juros ficará para o início de 2026.
A dúvida é se o Copom começará a cortar a Selic logo na primeira reunião do próximo ano, em janeiro, ou se deixará para fazer o afrouxamento da política monetária na segunda reunião do ano, em março, em meio à expectativa de mais estímulos fiscais – tanto do governo federal quanto dos governos regionais – por conta das eleições no fim do ano. Analistas reconhecem que o impacto da política monetária seria mais forte se o governo não estivesse adotando uma política fiscal mais expansionista, marcada pela busca do cumprimento da meta fiscal pelo piso, o que vem exigindo, segundo eles, uma taxa de juros mais elevada por um período mais prolongado, como vem afirmando o BC nos últimos comunicados do Copom. E, quando os juros sobem ou caem, o efeito na atividade demora, de seis a nove meses, por conta da defasagem tradicional. Logo, desde o segundo trimestre de 2025, a economia vem sentido o impacto ainda do começo ciclo de aperto monetário, iniciado em setembro do ano passado.
“Como esperado, os efeitos defasados da política monetária estão surtindo efeito sobre as atividades cíclicas (como varejo, construção civil, turismo), e os dados referentes ao PIB do terceiro trimestre vão confirmar o menor crescimento dessas atividades. Porém, como esperado, há uma heterogeneidade no desempenho das grandes atividades, com destaque na contração da indústria de transformação e a resiliência em serviços”, explicou a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Ela revisou de 0,2% para 0,1% no PIB a previsão para a variação na margem do PIB do terceiro trimestre, mas manteve em 2% e em 1,8% as previsões de crescimento do PIB neste ano e no próximo, respectivamente.
A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, também prevê variação de 0,1% no 3º trimestre na margem, e projeta alta de 1,7% na comparação interanual. “Esse resultado vai sustentar a tendência de desaceleração que, agora, será maior em relação ao que vimos no segundo trimestre e, pela abertura, o que sustenta esse ligeiro crescimento na margem, principalmente, do lado da demanda, é o consumo das famílias e a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), com avanços de 0,5% e 1,3%, respectivamente”, explicou. Pelo lado da oferta, ela destacou que o agronegócio seguirá perdendo o dinamismo, assim como a indústria extrativa, mas com a indústria da transformação se recuperando um pouco após fortes quedas nos trimestres anteriores. “O que temos ainda é um crescimento na margem de serviços, de 0,5%, segmento que tem um peso importante no consumo das famílias, refletindo o crescimento do consumo das famílias”, explicou.
Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, espera crescimento de 0,2% no PIB do terceiro trimestre, na margem, mas reconhece que, devido às revisões do IBGE que costumam ocorrer junto com a divulgação do PIB, uma queda não pode ser totalmente descartada. “O terceiro trimestre é um trimestre perigoso porque, nele, o IBGE faz uma revisão dos dados anteriores. Então, se tivermos, por exemplo, uma elevação dos dados do segundo trimestre, um 0,2% positivo, pode virar um 0,2% negativo por conta do efeito base”, explicou.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, por exemplo, estima queda de 0,2% no PIB de julho a setembro, na comparação com os três meses anteriores, uma vez que acredita que o impacto dos juros elevados está ocorrendo na atividade. “O PIB vai ser próximo de zero, estou com negativo, mas quem está com positivo é marginalmente positivo, mas é um PIB que está desacelerando em relação aos últimos trimestres”, explicou. De acordo com ele, esse impacto está aparecendo mais em segmentos de crédito, como venda de automóveis, móveis, eletroeletrônicos e material de construção. “O brasileiro está deixando de fazer empréstimo para comprar serviços. E, por isso, vemos o setor de serviços com algum vigor, apesar de também já estar começando a desacelerar nos últimos dados das pesquisas mensais do IBGE”, apontou.
Sergio Vale ainda destacou que o mercado de trabalho, que ainda está forte, está começando a dar sinal de virada no mercado formal. Ele lembrou que, em outubro, houve uma redução forte no número de vagas criadas nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). “Os dados do Caged vieram mais fracos e , marginalmente, vemos uma desaceleração nos dados de ocupação, que está lenta, mas está vindo. Acho que ela tende a se intensificar um pouco mais no ano que vem, porque você vai ter uma consolidação dos juros elevados nesse patamar”, acrescentou.
Rodolfo Margato, economista da XP Investimento, por sua vez, assim como Leal, prevê avanço de 0,2% no PIB do terceiro trimestre, na margem, e alta de 1,6% na comparação interanual. “A nosso ver, os dados do PIB confirmarão a desaceleração da atividade econômica ao longo dos últimos meses, mas com sinais heterogêneos entre os componentes”, destacou.
O economista da XP também prevê alta de 0,5% no setor de serviços, que tem forte peso no PIB, devido à maior resiliência do setor terciário, “com destaque a trajetória positiva de serviços de informação e comunicação, serviços de intermediação financeira, a recuperação de serviços de transporte e armazenagem e também a solidez dos serviços profissionais e administrativos”. “Mais uma vez, pelo lado da oferta, destaque para o setor de serviços que é mais sensível à renda e, afinal, o mercado de trabalho segue apertado e a renda real continua em alta”, acrescentou.
Na ponta mais otimista, Fernando Honorato, economista-chefe do banco Bradesco, espera avanço de 0,3% no PIB do terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores. Recentemente, ele elevou de 1,4% para 1,5% a projeção de crescimento do PIB de 2026, mas manteve em 2% a previsão de expansão da atividade econômica neste ano. No relatório, afirmou que a atividade econômica neste segundo semestre caminha para a “estabilidade” neste ano e, para 2026, devido aos estímulos fiscais, fez ajuste na previsão.