A atuação do Banco Central na novela do Banco Master, que culminou na liquidação extrajudicial da instituição, nesta terça-feira (18/11), é considerada tardia pelo economista e ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas Gomes. Ele acredita que esse cochilo ainda pode entrar na conta do presidente do BC, Gabriel Galípolo, porque as contas do Master não fechavam há muito tempo. Contudo, ele não está sozinho, pois gestores de fundos concordam com a afirmação de Freitas e estimam rombo superior a R$ 20 bilhões.
Mal das pernas por vender títulos com remuneração acima das taxas do mercado, o presidente do Master, Daniel Volcaro, chegou a receber R$ 4 bilhões de reais do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), há poucos meses. A instituição privada ainda teve uma proposta de compra pelo Banco de Brasília (BRB), controlado pelo Governo do Distrito Federal (GDF), em março deste ano, contudo, a operação foi vetada pelo BC, em setembro, em meio às pressões de políticos do Centrão, que eram favoráveis à aquisição.
“Essa transação entre BRB e Master era muito estranha, porque não faz sentido um banco público querer comprar um banco privado. A história mostra que o contribuinte já arcou muito com bancos estatais que quebraram no passado por tomar medidas equivocadas”, destacou o economista e ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo de Freitas, em entrevista ao Blog.
Na avaliação de Freitas, o BC demorou muito para tomar essa decisão. “O banco Master vinha apresentando problemas desde o ano passado, pois tinha ativos incertos e passivos certos e não pode sobreviver. O BC realmente dormiu no ponto e só acordou agora”, afirmou o ex-diretor, em referência aos ativos compostos por precatórios duvidosos e dívidas com os títulos pagando mais de 150% acima da taxa básica da economia (Selic), atualmente em 15% ao ano. Ele lembrou que o caso do Master relembra escândalos da década de 1980, como os dos bancos Comid, Auxiliar e Maisonnave, que também foram liquidados pelo BC.
“O FGC chegou a emprestar alguns bilhões para o Master e esse recurso, que também é dos grandes bancos que fazem depósito nesse fundo, não vai ter volta e eles devem amargar o prejuízo”, acrescentou Freitas.
De acordo com o ex-diretor, os investidores com aplicações em títulos do Master, agora, por conta da liquidação do banco só serão cobertos pelos limites do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que é de R$ 250 mil. As instituições como Bradesco e XP Investimentos, que chegaram a comercializar títulos do Master, estão recomendando aos clientes procurarem o FGC, por meio do aplicativo, e não estão dando declarações, por enquanto. O Itaú Unibanco não comentou o assunto e informou que nunca distribuiu títulos do Master aos clientes.
Freitas ainda lembrou que Galípolo recebeu várias vezes o presidente do Master, “dando a impressão que estava resolvendo o assunto”. “No passado, o BC gastou bilhões do contribuinte para fechar bancos estaduais e, agora, autorizariaria um banco estadual comprar o Master?”, questionou.
Questionado sobre os motivos para essa demora na liquidação do Banco Master, o BC ainda não comentou a crítica. Em nota divulgada na tarde de hoje, a autoridade informou que o conglomerado do Master detém 0,57% do ativo total e 0,55% das captações totais do Sistema Financeiro Nacional (SFN). “A decretação do regime especial nas instituições foi motivada pela grave crise de liquidez do Conglomerado Master e pelo comprometimento significativo da sua situação econômico-financeira, bem como por graves violações às normas que regem a atividade das instituições integrantes do SFN”, acrescentou o documento.
“O Banco Central continuará tomando todas as medidas cabíveis para apurar as responsabilidades nos termos de suas competências legais. O resultado das apurações poderá levar à aplicação de medidas sancionadoras de caráter administrativo e a comunicações às autoridades competentes, observadas as disposições legais aplicáveis. Nos termos da lei, ficam indisponíveis, a partir de hoje, os bens dos controladores e dos ex-administradores das instituições objeto dos regimes especiais decretados”, complementou.
Mais cedo, na decisão da liquidação do Master, a autoridade monetária nomeou a EFB Regimes Especiais de Empresas, tendo como responsável técnico Eduardo Felix Bianchini, para exercer a função de liquidante extrajudicial, “com amplos poderes de administração e representação da sociedade”.
A liquidação do Master pelo BC ocorreu após a operação da Polícia Federal denominada “Compliance Zero”, que cumpre mandados de busca e apreensão em cinco estados e culminou na prisão do banqueiro Daniel Volcaro, que tentava fugir do país com destino ao paraíso fiscal de Malta na noite de ontem. Conforme as estimativas do diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, a fraude envolvendo o Banco Master é de R$ 12 bilhões.
Mas, segundo um gestor de fundos que conversou com o Blog e pediu anonimato, esse valor deve ser apenas o volume de títulos da instituição nas mãos do BRB. Ele também acredita que o BC demorou muito para liquidar o Master, e, pelos cálculos dele, esse rombo pode ultrapassar R$ 20 bilhões por conta de toda essa demora. “Houve muita pressão política”, afirmou.
*A matéria foi atualizada, incluindo nota do Banco Central