Em dia de decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou, nesta quarta-feira (5/11), uma pesquisa que mostra o impacto direto dos juros nos investimentos do setor. Conforme dados do estudo feito pela Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, caso a taxa básica de juros caísse de forma mais expressiva, 77% das empresas industriais do país aumentariam seus investimentos nos próximos dois anos.
O índice da pesquisa é idêntico entre pequenas, médias e grandes empresas, indicando que a redução dos juros impulsionaria o investimento e, consequentemente, o crescimento econômico em todos os segmentos, segundo a entidade. Foram entrevistados para o estudo 1.000 executivos industriais, com margem de erro de três pontos percentuais e intervalo de confiança de 95%.
Desde junho, a taxa básica da economia (Selic) segue estável em 15% ao ano — o maior patamar desde julho de 2006. O consenso do mercado para a reunião de hoje é de manutenção dos juros básicos. E, pelas apostas do mercado, a queda da Selic só deverá ocorrer no primeiro trimestre de 2026. De acordo com os analistas, assim nos comunicados anteriores, o BC manterá a janela aberta para um eventual aumento de juros, devido às incertezas na área fiscal, apesar de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentar minimizar os riscos que implicam em aumento da dívida pública em relação o Produto Interno Bruto (PIB).
Pelas estimativas de Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, a dívida pública bruta deverá ultrapassar 90% do PIB em 2029. “A dinâmica da dívida pública é uma dinâmica de alta. Isso é inegável. E o mercado considera essa dinâmica. Apesar do esforço do governo, muito meritório, o fato é que a conta não fecha e a dívida pública está subindo e vai continuar subindo”, afirmou.
Leonardo Costa, economista do Asa, por exemplo, espera que a taxa básica deverá começar a cair a apenas partir de março de 2026. “O Banco Central vai esperar mais um pouco os efeitos da política monetária mais restritiva, porque ela ainda não é suficiente para mudar a trajetória dos juros”, explicou. Para ele, no comunicado, o Copom “não deve piscar, apesar de alguns fatores estarem colaborando para a redução das expectativas de inflação mais longas do Focus”.
“A decisão do Copom de manter a Selic em 15% ao ano é mais um duro golpe na economia e na competitividade da indústria brasileira”, disse Ricardo Alban, presidente da CNI, em nota da entidade. Na avaliação do executivo, “não há justificativa técnica para o BC manter a Selic no atual patamar”. Ele destacou que, considerando as expectativas de inflação nos próximos 12 meses em 4,06%, o juro real chega a 10,5% ao ano “nível que inibe o investimento produtivo, afeta o consumo das famílias e penaliza especialmente as camadas de menor renda”.
Ontem, em evento em São Paulo, o ministro Fernando Hadadd também criticou o atual patamar da taxa Selic e classificou o fato de os juros reais estarem em torno de 10%, algo “insustentável”. Ele disse que, se fosse diretor do BC, votaria pela queda da Selic.
A pesquisa da CNI também reforçou uma forte preocupação dos empresários com o Custo Brasil – conjunto de fatores que limitam a competitividade da economia frente a outros países. Conforme dados da entidade, Anualmente, o Custo Brasil desperdiça R$ 1,7 trilhão no país – cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
De acordo com o estudo, os juros elevados são um dos principais componentes desse custo, e, para 60% dos entrevistados, reduzir o Custo Brasil deveria ser a principal prioridade do país — outros 18% colocam como segunda prioridade.
A grande maioria dos entrevistados, 81%, ainda afirmou que o Custo Brasil eleva os preços finais ao consumidor. Desses, 55% acreditam que o aumento é muito significativo; 22%, razoável; e apenas 4% veem impacto pequeno.