Em semana de reuniões dos comitês de política monetária dos bancos centrais do Brasil (Copom), e dos Estados Unidos (Fomc), o dólar segue em queda frente ao real, rompendo o piso de R$ 5,30, nesta terça-feira (16/9). O recuo está relacionado com a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) deverá anunciar, amanhã, nova “superquarta” para o mercado financeiro, o início de novo ciclo de corte nos juros básicos, de 4,25% a 4,50% atualmente.
A divisa norte-americana rompeu o piso de R$ 5,30 às 13h29, quando chegou a R$ 5,297, e, após oscilar um pouco e voltar a ficar acima de R$ 5,30, atingiu o piso de R$ 5,294, às 14h30. No fim do pregão, encerrou cotada a R$ 5,298, com queda de 0,44. As bolsas norte-americanas fecharam em queda com a perspectiva do corte de 0,25 ponto percentual nos juros amanhã. A Nasdaq, bolsa das empresas de tecnologia, escorregou 0,07%, aos 22.333 pontos, próximo do recorde histórico. O Índice Dow Jones recuou 0,27%, para 45.757 pontos.
“A queda do dólar está relacionada com a expectativa da reunião do Fed, mas também pela falta de sanções extras dos Estados Unidos”, afirmou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. Ele destacou que há várias apostas no mercado sobre a decisão do Fed, mas todos vão na direção de corte de juros, o que enfraquece o dólar. “Há gente do mercado acreditando que o banco central dos EUA pode anunciar três cortes até o fim do ano, outros apostam em dois cortes, e outros, em corte de até 0,50 ponto percentual…”, enumerou.
Maurício Valadares, diretor de investimentos (CIO) da Nau Capital, lembrou que a desvalorização do dólar é global, justamente porque o mercado está na expectativa vários cortes nos juros norte-americanos e, nesse sentido, o euro registrou uma valorização maior do que a do real hoje, de quase 1% frente .
“O dólar está mais fraco no mundo devido à expectativa de que o Federal Reserve realize uma sequência de cortes pela frente”, explicou Valadares. “O grande ponto, agora, é se o Fed vai anunciar duas ou três reduções até o fim do ano. Como o banco central norte-americano vai apresentar as projeções trimestrais amanhã, o mercado estará aguardando qual será a nova estratégia na política monetária dos EUA, que tende a ficar mais frouxa”, acrescentou.
Apesar de a inflação nos EUA ainda estar elevada, acima da meta de 2%, girando em torno 2,6% no acumulado em 12 meses até julho, o mercado de trabalho tem dado sinais mais fracos na maior economia do planeta, e isso é o que vai pesar na decisão de amanhã, de acordo com Valadares. “O Fed tem mandato duplo, e, portanto, ele deve olhar para o mercado de trabalho nessa decisão e reduzir os juros em 0,25 ponto percentual, mas se for mais agressivo e cortar 0,50 ponto percentual, será um erro, porque a inflação ainda não arrefeceu”, avaliou.
Copom na contramão
Enquanto o mercado aposta em queda de juros nos EUA, por aqui, o consenso de analistas é de manutenção da taxa básica da economia (Selic), atualmente em 15% ao ano, principalmente por conta da perspectiva de piora do quadro fiscal.
Os dados divulgados, hoje, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicando queda na taxa de desemprego para 5,6%, no trimestre no trimestre encerrado em julho – menor patamar desde o início da série, em 2012 –, apesar de positivo para a atividade econômica, sinalizam um mercado de trabalho ainda aquecido que gera pressões inflacionárias, contribuindo para que o BC mantenha os juros no atual patamar.
“Esses dados, contudo, limitam a perspectiva de corte de juros uma vez que salários em alta mantém o custo de serviços em alta e esta é a variável chave da análise da maioria dos economistas e do Banco Central para avaliar os componentes subjacentes da inflação. Como costumo dizer: a notícia ruim é que está bom”, ressaltou o economista e consultor André Perfeito. Para ele, se o Banco Central cortar a taxa Selic antes será por conta do dólar, que segue recuando e ajuda a reduzir as pressões inflacionárias. “Vamos ter muita emoção nesta ‘superquarta’”, apostou.
E, enquanto o dólar cai, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) segue operando no azul desde a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a 27 anos de prisão no julgamento da trama golpista. No pregão de hoje, avançou 0,36%, para 144.061 pontos.
“O mercado já está precificando a vitória de um candidato mais de centro nas eleições de 2026. A condenação de Bolsonaro indica que aumenta a probabilidade de uma novidade mais moderada poder implementar mudanças”, afirmou Maurício Valadares. Segundo ele, esse movimento de alta da Bolsa e queda do dólar reflete a aposta do mercado de uma vitória de um candidato mais de centro, como os governadores Tarcisio de Freitas (São Paulo) e Ratinho Júnior (Paraná).
Contudo, o analista reconheceu que as declarações de Tarcísio nas comemorações de Sete de Setembro, na capital paulista, criticando o Supremo para agradar bolsonaristas, foi um tiro no pé. Valadares reconheceu também que, se Tarcísio insistir nesse discurso mais extremista, abre espaço para outro candidato mais moderado, como Ratinho Jr., na preferência desse eleitor de centro que costuma definir as eleições. “Ainda não sabemos quem será esse candidato moderado com chances de vencer em 2026”, frisa.