ARTIGO: A paz e os últimos acenos de verão

Os primeiros sinais vieram da Polônia, que teve as bordas de seu território e espaço aéreo invadidas por drones, com algumas vítimas

Aeronaves polonesas e de países da Otan monitorando o espaço aéreo do país - (crédito: Reprodução/Força Aérea Polonesa)

Por Luiz Recena Grassi*

Uma guerra é uma guerra. E sempre carrega com ela novidades e surpresas. Não poderia ser diferente nesse conflito armado entre Rússia e Ucrânia. Os primeiros sinais vieram da Polônia, que teve as bordas de seu território e espaço aéreo invadidas por drones, com algumas vítimas. 

Quem primeiro reagiu foram os polacos, que abriram o berreiro e, junto com seus aliados e primos ucranianos, acusaram o vilão de sempre: os russos. Divulgaram que os russos tinham planejado bem antes os ataques e eles são uma prova dos delírios conquistadores do Kremlin contra a Europa. Para reforçar, começaram manobras militares junto com a Belarus, na fronteira com a Polônia, para melhor caracterizar uma intimidação. 

Os russos não reagiram de imediato. Esperaram e pediram provas. Ainda esperam. A imprensa não alinhada mostrou pedaços de drones construídos com peças e outros componentes de origem norte-americana e de outros países europeus. E mais não se falou. Mas não se deixou morrer o assunto. 

O governo ucraniano aproveitou para repetir o discurso contra a Rússia, tildando-a de invasora que quer ampliar suas conquistas e abocanhar pedaços da Europa. O segundo aproveitamento estridente veio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) via discursos e ameaças de seu chefe Mark Rutte, animado por mais uma chance de melhorar o protagonismo da organização e o dele próprio. Prometeu começar, ainda neste fim de semana, a operação Sentinela do Leste.

Quer garantir a integridade territorial dos membros da organização e aplicar, na prática, os desejos da chefe da União Europeia, Úrsula von der Leyen. “Devemos garantir e defender cada centímetro do território europeu”, disse ao discursar na tradicional apresentação do Estado da UE ao Parlamento europeu, que após o grande momento entrou em recesso. 

Na operação anunciada, meios aéreos e terrestres serão usados. São caças norte-americanos de modelos mais antigos e tanques e veículos militares ingleses, franceses e alemães, todos já testados no conflito. E derrotados pelas forças russas. Dinamarca, França, Reino Unido e Alemanha confirmaram suas participações na operação Sentinela do Leste.

Os armamentos envolvidos virão dos Estados Unidos e irão para os paióis da Otan. Os europeus pagarão a conta. Os presidentes Donald Trump (EUA) e Vladimir Putin (Rússia), as duas musas principais deste verão, igualmente entraram no novo jogo de ameaças. 

Putin exige provas e renova ameaças contra países da Aliança que prometem ajuda direta em armas e equipamentos para a Ucrânia. A Dinamarca é novo alvo na mira das ações das forças do Kremlin. Diante de tudo isso, o Kremlin mobilizou boa parte de sua equipe de imprensa (aquela que não está no Varão) para distribuir um novo tipo de informação: quaisquer negociações estão mais em ‘pausa’ do que em “ativas”. 

Doido para participar, mas longe do conflito, Donald Trump também faz ameaças veladas contra os russos. Está com muitos problemas em casa, mas arranjou um tempinho para mandar um recado ao colega russo: “minha paciência está se esgotando”, disse. E assim, entre gesto e gesto, vai-se esgotando o Verão. Novidades, mesmo, são esperadas para o Outono e, depois, para o Inverno. Até lá será tempo de espera.  

O CORREIO SABE PORQUE VIU. 

Estava lá. Não é de hoje que o Botafogo faz surpresas ou cria novidades. No meu segundo ano em Moscou, 1989, houve uma dessas: com um gol meio fantasma de Maurício, se não falha a memória, sagrou-se campeão carioca. A notícia chegou de madrugada e foi comemoradíssima. Jaime, meu filho botafoguense, gravou o gol. Fita K-7. 

Com ajuda de mãos amigas, e botafoguenses, a fita não demorou a chegar. Assim, na véspera de um feriadão de sábado, houve novas comemorações, na casa de um novo amigo de infância, diplomata e botafoguense. Fanático. Mais do que eu. E meu xará também. Ouvimos o gol até nos expulsarem da sala. Não importava nada. Era fechar os olhos e pensar alto: Campeão Carioca! Tinha um comício da oposição a Gorbachov. 

Só um registro. Nada era mais importante. Era fechar os olhos e suspirar alto, bem alto: Campeão Carioca! Vivas ao Botafogo da Perestroika. Vivas ao Campeão Carioca 1989! Houve outros momentos importantes, outros títulos marcantes a serem registrados. Mas aquele, comemorado entre telefonemas ao Brasil, acompanhado de boa bebida e boa comida, na casa de um xará diplomata, brasileiro, carioca e botafoguense, aquele é, como dizem hoje os meninos que reinventam o idioma, “inesquecível, muito inesquecível…”. Novos vivas ao Botafoguinho e ao ano de 1989!

*O jornalista foi, por muitos anos, correspondente do Correio Braziliense em Moscou