ARTIGO: Sinais trocados e gritos de alerta

Todos esperam novas manifestações de Donald Trump. Ele falou de paz, mas seu primeiro gesto foi anunciar a retomada do envio de armas para a Ucrânia

Donald Trump Crédito:Mandel NGAN / AFP

Por Luiz Recena Grassi*

Primeiro, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, azucrina boa parte do mundo. Anuncia o fim da guerra em uma semana. Para reforçar sua narrativa, suspende o fornecimento de armas para a Ucrânia. Deixou na chuva as forças de Defesa nacionais, e também o presidente do país, Volodymyr Zelensky, que primeiro desdenhou do gesto, e depois correu para o colo da União Europeia, mato de onde não sai coelho. 

Depois de várias reuniões e grandes intenções, alguns resultados: caças, velhos, F-15 da Alemanha somam-se aos caças poloneses; a Dinamarca e as repúblicas bálticas estão a fazer um fundo para comprar armamentos e munições. Querem ajuda da Alemanha para comprar baterias de Patriot, para melhorar o desempenho defensivo das tropas de Kiev. 

A Inglaterra, generosa, confirma a promessa de envio de cinco mil mísseis storm shadow para a Ucrânia. O preço atual de cada míssil, novinho, está próximo dos três milhões de dólares cada. Não dá para fazer conta linear, pois no meio de cada lote de shadow vai sempre um bom número de armamentos menos potentes, que vão à frente para distrair o inimigo. 

A Rússia manteve-se em um quase silêncio, comentando os fatos apenas via seu porta-voz Dmitry Peskov. O país festeja três anos de crescimento econômico e Moscou, sozinha, o terceiro ano de crescimento acima de 4%.

A Rússia volta e meia, como agora, ganha injeção de moeda forte em consequência das oscilações do preço do petróleo. Zelensky está danado com isso, e denuncia que mais de 20% do consumo europeu ainda depende da Rússia. 

O presidente russo Vladimir Putin saudou a decisão inicial de Trump. E mais não comentou. Trump declarou-se desapontado com a baixa colaboração de Putin. Mas seu secretário de Estado, Mark Rubio, continuou a manter reuniões com seu homólogo Sergei Lavrov. Rubio anunciou que as negociações avançam e pode haver fatos novos em breve. Lavrov foi na mesma linha e Trump avisou das novidades para o início da semana. 

Os próximos dias prometem ao menos bastante movimento. O enviado especial dos EUA para Kiev, Keith Kellogg, já está lá. Todos esperam novas manifestações de Donald Trump. Ele falou de paz, mas seu primeiro gesto foi anunciar a retomada do envio de armas para a Ucrânia. Com um detalhe interessante: a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) pagará por essas armas. Segundo o presidente da América, a Otan vai pagar 100% do que for comprado. Receberá o armamento e irá repassando conforme as necessidades da belicosa parceira. 

Trump informou que vai usar sua verba pessoal de governo, U$ 1,5 bilhão para garantir as compras junto ao Pentágono e a indústria armamentista americana.  Mas quem vai pagar, no final, será mesmo a Otan, com a nova contribuição dos membros. Há quem já esteja a dizer que não haverá pagamentos por parte da Ucrânia. Os russos dizem que não, pelo histórico dos envolvidos. 

O líder dos EUA afirma que sim. São gritos de alerta.  Nas frentes de batalha o ritmo está um pouco mais acelerado por parte das tropas russas, a conquistar aldeias e vilas, empurrando os soldados da Ucrânia de volta para casa. Detalhe para o aumento da capacidade destrutiva dos russos, que triplicaram o número de drones em seus ataques e aumentaram a frequência de suas ações nos arredores de Kiev e outras cidades importantes. O conflito armado pode não terminar agora, mas provocará situações novas e diferentes durante o verão que começou.

O CORREIO SABE PORQUE VIU.

Estava lá. A neve fofa é inofensiva. A neve dura, escorregadia faz vítimas, causa estragos. Enquanto não aprendia a caminhar, arrastando os pés, levei vários tombos. Sem maiores consequências. A mais complicada das confusões foi com carrinho velho. O sinal fechou, pisei no freio e o danado seguiu deslizando até… bater na traseira do que estava na frente. 

Frio. Perto de casa. Sugeri ao dono do carro, a quem dei razão, um café quente em minha casa. Ele se fez de difícil, mas a patrulha chegou, achou ótima ideia. Um russo amigo ajudou e tudo correu bem. Conhaque armênio e cigarros Marlboro completaram o acordo. A vítima quis dinheiro. Os guardas viram o cartão de jornalista e a placa do carro, letra K (correspondente). Seguro total cobre. Mais tombos: saída do metrô. Chão mais liso do que ringue de patinação. 

Dei mole. Esbarrei em alguém e… bunda ao chão! Dois russos que vinham atrás me recolheram. Me seguraram sentado, pra ter certeza de que estava tudo bem. Mais dois chegaram e me escoltaram até a parada do ônibus, uns 150 metros dali. Consegui dispensá-los, mas eles instruíram o motorista. 

Viajei duas estações e desci na parada. O motorista desceu comigo e outras duas pessoas também. Mostrei meu edifício e só então fui liberado. Olharam-me até a porta. Dias depois entendi o horário do motorista e consegui dar-lhe um agrado: a garrafinha de vodka e um peixe frito. Fiquei conhecido na linha do ônibus. Como não simpatizar com um povo desses?

*O jornalista foi, por muitos anos, correspondente do Correio Braziliense em Moscou