No mesmo dia em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conseguiu aprovar a controversa “Big Beautiful Bill”, ou “Lei Grande e Bela” na tradução literal, projeto de lei orçamentária que prevê cortes em vários programas sociais, como Medcaid, e a ampliação da dívida pública dos EUA em US$ 3,3 trilhões até 2034, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) bateu novo recorde nesta quinta-feira (3/7) enquanto o dólar voltou a cair para o menor patamar em um ano.
O Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, atingiu o pico de 141.304 pontos ao longo do dia e encerrou o pregão com alta de 1,35%, a 140.928 pontos – maior patamar da história. No acumulado do ano, o indicador registra alta de 17,16%. Já o dólar inaugurou um novo piso após fechar com queda de 0,28%, cotado a R$ 5,405 para a venda – menor cotação desde junho de 2024.
A perspectiva de piora do quadro fiscal dos Estados Unidos tem ajudado no enfraquecimento do da divisa norte-americana frente às demais moedas, tanto que, no acumulado no ano recua 10%, pior desempenho no período desde 1973. Dólar mais fraco ajuda a diminuir as pressões inflacionárias.
O projeto de lei de Trump foi aprovado pela Câmara dos Representantes dos EUA por 218 votos contra 214, após, na terça-feira, o Senado ter dado a luz verde graças ao voto de desempate do vice-presidente, J.D. Vance. Trump promulgará a lei nesta sexta-feira (4/7), aproveitando o feriado do Dia da Independência dos Estados Unidos.
A dívida pública bruta da maior economia do planeta gira em torno de R$ 36,2 trilhões (R$ 196 trilhões, na cotação atual), o equivalente a 120% do Produto Interno Bruto (PIB), conforme dados do Tesouro norte-americano.
Mercado de trabalho surpreende
Apesar da certeza de piora do quadro fiscal nos EUA, contudo, as principais bolsas norte-americanas também fecharam no azul em meio às notícias positivas na economia, na véspera do feriado do Dia da Independência dos Estados Unidos. O mercado de trabalho, por exemplo, registrou a criação de 147 mil vagas em junho, superando a previsão do mercado, de 110 mil, com o índice de desemprego recuando para 4,1%.
“Tais indicadores mostrararam a solidez da economia norte-americana, com Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), assumindo cautela em relação à taxa de juros”, destacou o economista e consultor Julio Hegedus.
Segundo ele, o novo recorde da B3 que inaugurou novo patamar da Bolsa foi embalado pelas notícias positivas no mercado externo. Em contribuição, avanços nas negociações em torno do fiscal, com o projeto de lei exigindo um corte linear das despesas enquanto a questão em torno do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) segue em cima do muro”, acrescentou.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, ressaltou que essa melhora no desempenho da Bolsa brasileira está relacionada com o clima positivo do mercado norte-americano e o fluxo de capital estrangeiro. “Mas mercado está bem convencido que teremos dólar fraco por mais tempo”, afirmou.
Hegedus, lembrou que, de janeiro até 27 de junho deste ano, o volume de entrada de estrangeiros na Bolsa somou R$ 26,2 bilhões, o melhor volume para o período desde 2022.
Cruz, por sua vez, destacou que as declarações do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bassent, falando sobre acordos comerciais que serão anunciados nos próximos dias, também deixou o mercado financeiro mais otimista. Em entrevista à CNBC, Bessent afirmou ainda que os comentários de que as tarifas prejudicariam a economia e os mercados não se concretizaram.
“O mercado teve a recuperação mais rápida de todos os tempos, desde a mínima de abril. E estamos em novas máximas no mercado”, defendeu. Em relação às críticas aos cortes orçamentário feitas pelo bilionário Elon Musk, Bessent rebateu: “Tenho grande respeito por Musk em relação aos foguetes, deixo isso para ele. Ele pode deixar as finanças comigo.” (Com informações da AFP)