O mercado financeiro está dando sinais trocados, pois, enquanto aponta problemas nas credibilidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na condução da política fiscal, e os juros básicos nos maiores patamares desde 2006 — tornando a renda renda fixa ainda mais atrativa — o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador a Bolsa de Valores de São Paulo (B3), rema contra a maré e encerra o primeiro semestre com o melhor desempenho da renda variável em nove anos.
Em meio às recentes derrotas no campo político, como a derrubada do decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), piorando o quadro fiscal e fazendo com que analistas apostem em uma mudança na meta fiscal de 2026, o IBovespa acumulou alta de 15,44% no acumulado de janeiro a maio, a maior registrada para o período desde 2016, quando o indicador havia avançado 18,66%. Enquanto isso, o o dólar volta a cair e acumula queda de 12,08% no semestre, cotado a R$ 5,43, menor patamar desde setembro do ano passado.
“O salto (do IBovespa) vem após um segundo semestre de 2024 marcado por perdas, com queda de 2,92%, e representa uma recuperação sólida em um ambiente ainda carregado de incertezas fiscais, juros altos e volatilidade cambial. A última vez que o índice havia exibido um semestre tão forte havia sido no segundo semestre de 2020, no auge da recuperação pós-pandemia, quando subiu 25,21%”, destacou Einar Rivero, sócio fundador da consultoria Elos Ayta, em seu relatório ao mercado.
De acordo com o consultor, com o avanço de 15,44% até junho, o Ibovespa precisa de um segundo semestre estável ou levemente positivo para fechar 2025 com desempenho anual expressivo, de acordo com Rivero. E, caso isso ocorra, seria o melhor ano desde 2019, quando o índice avançou 31,58%. (Ver quadro)
Alta de juros
Na semana passada, o Banco Central voltou a sinalizar que a taxa básica da economia (Selic), atualmente em 15% ao ano, deverá continuar em patamar elevado por um período “bastante prolongado”. Os juros básicos estão no maior patamar desde julho de 2006, e apesar disso e das tensões em torno do quadro fiscal persistentes, “o mercado parece ter encontrado algum grau de estabilidade e confiança”, ao ver de Rivero. Segundo ele, uma das explicações apontadas pelos analistas é de que, embora as expectativas de cortes de juros no segundo semestre sejam tímidas, os preços das ações brasileiras estão atrativos em meio à queda do dólar e a entrada do fluxo de investidores estrangeiros.
“O enfraquecimento do dólar tem ajudado a melhorar a percepção de risco do Brasil. Isso impacta positivamente na Bolsa, reduz a pressão sobre os preços de importados e pode facilitar o ciclo de flexibilização da política monetária monetária, ainda que lento”, disse Rivero. Ele ainda destacou que, apesar de as medidas apresentadas pelo governo serem consideradas insuficientes para o equilíbrio fiscal, elas ainda são melhores do que o esperado.
Poucos negociadores
Ao Blog, Rivero destacou que o volume médio diário de negociações na B3 tem apresentado queda nos últimos anos, ao passo que o índice segue em trajetória de valorização. “Um índice em forte alta, acompanhado por queda no volume financeiro, não é o cenário mais saudável. O ideal seria que o índice subisse com um aumento no volume financeiro, o que não tem ocorrido. Esse comportamento revela que são poucos os players efetivamente negociando e movimentando o índice”, explicou.
O analista reconhece que, recentemente, houve uma retomada dos investimentos estrangeiros na B3, o que contribui para a alavancagem do mercado. Contudo, a baixa liquidez preocupa, “pois torna o índice mais vulnerável a oscilações sem a devida sustentação”.
Na avaliação dele, o investidor, de forma geral, segue atento. “O segundo semestre historicamente é mais volátil e sujeito a eventos como eleições estrangeiras, decisões de política monetária nos EUA e andamento da agenda fiscal no Brasil”, afirmou.
Ponto de inflexão
O primeiro semestre de 2025, ao ver de Rivero, “marca um ponto de inflexão no humor do mercado brasileiro, combinando recuperação técnica com expectativas moderadas”.
“Mais do que um movimento de euforia, o que se vê é um retorno à racionalidade, com ativos locais sendo reprecificados após um período prolongado de pessimismo. Se o segundo semestre confirmar essa tendência, 2025 pode entrar para a história como o ano da virada silenciosa — sem estardalhaço, mas com consistência”, acrescentou.
Veja a evolução do IBovespa por semestres
