A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira (13/5), reforçou o comunicado da reunião da 270ª reunião do colegiado, sem dar qualquer sinalização futura para a próxima reunião do colegiado, nos dias 17 e 18 de junho.
Mas, ao deixar na ata a porta aberta para aumento dos juros, e reafirmar a cautela e flexibilidade na condução da política monetária, as avaliações de analistas divergiram sobre o término do ciclo de aperto monetário, iniciado em setembro de 2024. Enquanto uns acham que os juros devem permanecer no patamar atual até o primeiro trimestre de 2026, outros esperam mais uma derradeira alta na taxa básica da economia (Selic), atualmente em 14,75% ao ano, no mês que vem, para 15% anuais.
“Com relação à próxima reunião, o Comitê avaliou que o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, destacou a ata da reunião do Copom que elevou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, em decisão unânime, para o maior patamar em 19 anos.
Para a equipe de economistas do Itaú Unibanco, por exemplo, o ciclo de aperto monetário foi encerrado na reunião do Copom da semana passada. “Os membros parecem operar sob uma convicção muito forte de que a política monetária está em um nível significativamente contracionista, o que influencia sua avaliação geral da conjuntura”, informou o comunicado da equipe de economistas liderada por Mario Mesquita.” Embora a ata não feche a porta para um aumento adicional, o Comitê parece estabelecer uma barra alta para tal movimento. Assim, revisamos nossa projeção para a taxa Selic ao fim do ciclo para 14,75% ao ano”, destacou.
De acordo com o relatório do Itaú, “o Comitê está confiante de que a economia já está desacelerando e já observa sinais de alívio no mercado de trabalho”. A instituição financeira prevê que o Banco Central deverá manter os juros no atual patamar nos próximos trimestres e o corte da taxa Selic só deverá ocorrer no início de 2026.
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, por sua vez, manteve as apostas de que haverá mais um aumento da Selic em junho, de 0,25 ponto percentual, para 15% ao ano, antes do fim do ciclo atual de alta de juros. “A ata do Copom reforçou a comunicação que acompanhou a decisão de juros na semana passada. Por um lado, o Banco Central procurou deixar as portas abertas para uma eventual alta, ainda que boa parte do mercado acredite que ele tenha encerrado o ciclo de aperto monetário. Essa postura de tentar manter as possibilidades em aberto tem muito a ver com a visão de que você tem uma combinação ainda preocupante de inflação”, avaliou.
Segundo Padovani, o BC vem chamando a atenção para os riscos inflacionários e destacou na ata que a inflação corrente ainda é elevada, principalmente a de serviços; e as expectativas de inflação seguem desancoradas. Além disso, a economia ainda está aquecida e com sinais muito incipientes de desaquecimento, e o câmbio segue desvalorizado, seja por razões externas ou internas, como a incerteza fiscal. “Isso tudo mostra que você tem um risco inflacionário elevado, e, ainda que se tenha potencialmente esse risco sob controle, tudo sugere que o Banco Central vai reforçar essa postura que ele comunicou de cautela, flexibilidade e monitoramento de dados”, afirmou. “A mensagem é da ata é que estamos nos aproximando do fim do ciclo de aperto monetário, a estratégia que está sendo colocada na mesa a partir de agora é uma estratégia de manter juros elevados por mais tempo”, emendou.
O economista Alberto Ramos, responsável por estudos de América Latina do Goldman Sachs, e Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, reforçaram as apostas de que haverá um último aumento de 0,25 ponto percentual na taxa Selic no próximo Copom, antes do fim do ciclo de aperto monetário. “A ata está amplamente alinhada com uma declaração de política pós-reunião, cautelosamente um tanto moderada”, disse Ramos. Ele considera uma “questão fechada” essa previsão porque ela corrobora com os dados recentes de inflação e dos riscos elevados projetados pelo BC.
Megale, por sua vez, acredita que o plano atual do Comitê parece ser manter a taxa Selic inalterada nas próximas reuniões, “ainda que sem um compromisso firme nesse sentido”. “A flexibilidade continua sendo essencial. Acreditamos que as pressões inflacionárias domésticas, incluindo medidas fiscais recentes de estímulo ao crescimento e expectativas de inflação desancoradas, acabarão por convencer o Copom a realizar um último aumento de 0,25 ponto percentual na próxima reunião”, complementou.
Luis Felipe Vital, estrategista-chefe de Macro e Dívida Pública da Warren Investimentos, avaliou que o Copom também não descarta um ajuste marginal na Selic “caso haja alguma surpresa nos dados, mas avalia que o nível atual de juros já é significativamente contracionista e já vê impactos nos canais de transmissão”. Ele destacou que a ata confirma que o fim do ciclo, ainda que não se descarte ajuste marginal diante de surpresas nos dados; que o momento é de aguardar os efeitos do aperto já implementado e os juros devem ficar elevados por mais tempo”. “Em nosso cenário, os cortes (dos juros) devem começar apenas no 1º trimestre de 2026”, afirmou.
Já Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, avaliou que o Banco Central interrompeu o ciclo de alta dos juros. Segundo ele, o tom da ata do Copom foi um mais “hawkish” (que, no jargão econômico, significa menos leniente com a inflação), “justamente para tentar baixar as expectativas de inflação. “O BC já parou de aumentar os juros, e, na próxima reunião eles já pararam de subir, que na próxima reunião eles manterão a Selic no patamar atual (de 14,75% ao ano). Mas, com esse tom da ata, eles tentam deixar uma dúvida de que existem chances de mais aumento nas próximas reuniões”, afirmou Cruz. Na avaliação dele, ao mencionar na ata riscos de ambas as direções e citar como exemplos a desancoragem das expectativas e as incertezas no mercado externo, o BC tenta afastar o debate sobre corte de juros até o fim deste ano. “Eles não estão planejando outra alta de juros, mas a chance de corte de juros com essa ata parece muito baixa ainda em 2025”, complementou.
Sinal de alerta
Apesar de não sinalizar a decisão sobre política monetária no próximo Copom, o Banco Central reforçou a preocupação com a deterioração do quadro fiscal e até mencionou na ata sobre “estímulos significativos” dos últimos anos que adveio da política fiscal como um dos riscos no radar do colegiado.
“O Comitê, em sua análise de atividade, manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas. Em particular, o debate do Comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas”, frisou o BC no documento de sete páginas, e no qual dedicou dois parágrafos para fazer comentários sobre como o desarranjo fiscal atrapalha a condução da política monetária e, com isso, obriga a instituição a manter os juros em patamares elevados por um período mais longo.
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