Diante da piora das perspectivas para a economia global após a série de medidas tarifárias adotadas pelos Estados Unidos desde a posse do republicano Donald Trump, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu, de forma generalizada, as estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Na avaliação da instituição multilateral, o sistema econômico global sob o qual a maioria dos países operou nos últimos 80 anos, está sendo redefinido, conduzindo o mundo para uma “Nova Era”, uma vez que as tarifas aplicadas pelos EUA “ultrapassaram os níveis alcançados durante a Grande Depressão, enquanto as retaliações dos principais parceiros comerciais dos EUA elevaram significativamente a taxa global”.
As novas estimativas do Fundo indicam que o PIB global vai desacelerar de 3,5%, em 2024, para 2,8%, neste ano. O dado é 0,5 ponto percentual abaixo da previsão anterior, quando a instituição atualizou as projeções de outubro passado do relatório Panorama Econômico Mundial (WEO, na sigla em inglês), de 3,3%. Para 2026, a previsão para o avanço do PIB mundial passou de 3,3% para 3%, na mesma base de comparação.
De acordo com o relatório, o aumento de tarifas de reciprocidade aplicado por Trump a diversos países, “por si só, é um grande choque negativo para o crescimento”. O documento ainda reduziu em 1,5 ponto percentual a previsão de crescimento do comércio global neste ano, para 1,7%. “A imprevisibilidade com que essas medidas vêm se desenrolando também tem um impacto negativo na atividade econômica e nas perspectivas e, ao mesmo tempo, torna mais difícil do que o habitual fazer suposições que constituam uma base para um conjunto de projeções internamente consistentes e oportunas”, acrescentou o texto.
As novas projeções, inclusive, estão abaixo da média histórica de crescimento do PIB global, de 3,7% entre os anos 2000 e 2019, conforme os dados do WEO, divulgado, nesta terça-feira (22/4), pelo FMI, em paralelo ao encontro de primavera (no Hemisfério Norte), em Washington. O evento ocorre semestralmente na sede do Fundo, nesta semana, e o encerramento está previsto para o dia 26.
O encontro, que ocorre em conjunto com o Banco Mundial, costuma reunir os ministros da Fazenda e os presidentes dos bancos centrais dos 191 países-membros da entidade fundada em 1944, após a Segunda Guerra Mundial. Segundo a assessoria do Ministério da Fazenda, o ministro Fernando Haddad não participará do evento neste ano e será representado pela secretária de Assuntos Internacionais da pasta, Tatiana Rosito. Já o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que assumiu o cargo em janeiro, tem agenda oficial confirmada entre os dias 23 e 26 no evento do FMI.
PIB do Brasil abaixo da média
Ao reduzir as projeções de crescimento das principais economias destacadas no resumo do relatório, de forma generalizada, o Brasil teve um dos menores ajustes. Pelas novas estimativas do FMI, o PIB brasileiro deverá crescer 2%, neste ano e no próximo, dado 0,2 ponto porcentual abaixo das projeções de janeiro e abaixo da nova estimativa de crescimento global, de 2,8%.
O México, por sua vez, vai registrar PIB negativo neste ano, conforme os dados do WEO. O Fundo prevê queda de 0,3% no PIB mexicano, neste ano, dado 1,7 ponto percentual abaixo da previsão de janeiro, de 2%. E, para o ano que vem, a previsão de expansão foi reduzida de 2% para 1,4%.
Na previsão de referência, o crescimento do PIB das economias avançadas deverá ser de 1,4% em 2025. O PIB dos Estados Unidos deverá desacelerar para 1,8%, ritmo 0,9 ponto percentual inferior ao projetado na atualização do WEO de janeiro, “devido à maior incerteza política, às tensões comerciais e ao menor impulso da demanda”.
A estimativa de avanço do PIB dos Estados Unidos neste ano foi revisada de 2,7% para 1,8%, um corte de 0,9 ponto percentual em relação às projeções de janeiro. Já o corte para a projeção de expansão do PIB da Zona do Euro passou de 1% para 0,8%.
Já as economias de mercados emergentes e em desenvolvimento, devem desacelerar para 3,7%, em 2025, e para 3,9%, em 2026, com rebaixamentos significativos para os países mais afetados pelas recentes medidas comerciais, como a China. O Fundo cortou em 0,6 ponto percentual a previsão de crescimento do PIB chinês neste ano, de 4,6% para 4%.
O apoio fiscal durante a pandemia e no início da guerra na Ucrânia, em resposta ao aumento dos preços da energia e dos alimentos, sustentou a recuperação, segundo o relatório do Fundo. “Mas as medidas fiscais aumentaram drasticamente os índices dívida/PIB. Apesar de algumas reduções ocorridas e de cortes adicionais planejados, os déficits orçamentários permanecem elevados e lançam uma sombra sobre as perspectivas”, destacou o documento. A instituição ainda alertou que o espaço fiscal agora é muito mais restrito do que há uma década, “e o ajuste fiscal necessário para estabilizar os índices de dívida está em um nível historicamente alto”.
Veja os principais destaques da revisão das projeções do FMI:
