Diante da perspectiva de desaceleração da economia mundial em meio à guerra comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Bradesco revisou as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e do PIB global, além de não descartar as chances de recessão na maior economia do planeta.
A nova projeção do banco para o crescimento do PIB brasileiro, neste ano, foi reduzida de 1,9% para 1,8% e, para 2026, a atividade econômica deve seguir desacelerando, pois a taxa de expansão foi revisada de 1,5% para 1,3%. “Nosso cenário doméstico é baseado na hipótese de que a desaceleração das economias americana e chinesa terá efeitos na atividade global, levando nossa projeção do PIB mundial de 3,1% para 2,3% em 2025l. Embora as tarifas tenham viés inflacionário para os Estados Unidos, acreditamos que o excesso de oferta de bens industriais chineses resultará em uma ligeira desaceleração inflacionária no Brasil”, afirmou o economista-chefe do Bradesco, no relatório divulgado aos clientes, nesta quinta-feira (17/4).
Conforme as novas estimativas do Bradesco, não está prevista uma recessão técnica na atividade econômica do Brasil — quando há dois trimestres seguidos com queda do PIB. “No nosso cenário de PIB do Brasil, não há dois trimestres negativos, portanto, aqui no Brasil não temos recessão. Já nos EUA, é mais provável”, afirmou Honorato ao Blog. Ele ainda manteve em 5,6% a previsão para a inflação oficial deste ano e reduziu de R$ 5,90 para R$ 5,80 a expectativa para o dólar no fim deste ano, mas ainda espera uma “elevada volatilidade ao redor da projeção central”.
As projeções para taxa básica da economia (Selic) no fim do ciclo de aperto monetário devem encerrar em 14,75%, o que significa que o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá elevar os juros básicos em 0,50 ponto percentual na reunião de maio.
“A mudança do cenário global nos parece forte o suficiente para que o colegiado debata a possibilidade de interrupção do ciclo de alta já na próxima reunião”, disse. Para o fim do ano, as apostas para os juros básicos passaram de 14,75% para 14,25% ao ano, e, para o fim de 2026, a taxa de juros foi revisada de 12,25% para 11,75% anuais.
Incertezas globais
O nível de incerteza para a atividade econômica global cresce em meio às retaliações às tarifas recíprocas anunciadas pelos Estados Unidos no dia 2 deste mês. E, apesar da suspensão da aplicação das taxas pelos EUA, há uma escalada relevante de tensões, conforme aponta o relatório do Bradesco.
A estimativa do banco para avanço do PIB global neste ano passou de 3,1% para 2,3%, neste ano, e a do PIB dos EUA foi revisada de 2% para zero, com a projeção de inflação, antes de 2,5%, sendo revista para 3,6%, o que deverá fazer com que o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) enfrente uma “clara divergência” entre os seus dois mandatos em meio à guerra tarifária.
“Por um lado, a inflação subirá e isso deve acontecer rapidamente, por outro, a economia vai desacelerar e isso terá impacto sobre o mercado de trabalho, que seguia razoavelmente aquecido até agora. Entendemos que o comitê (de política monetária do Fed, o Fomc), vai avaliar com cautela os próximos meses, julgando o risco de retorno de cada decisão possível, mas, no fim do ano, terá acumulado evidências de que o risco de recessão é superior ao de descontrole inflacionário, fazendo dois cortes ainda em 2025”, explicou.
Para o médio prazo, Honorato avaliou que a agenda protecionista dos EUA “trará aumento relevante de custos de insumos e de mão de obra” e o dólar, que se desvalorizou desde o início desde a escalada do tarifaço de Trump, tende a ser um dos ativos que podem ter a procura dos investidores reduzida. “Os títulos do governo norte-americano, além disso, podem sofrer alguma pressão de venda dos países mais duramente afetados pela guerra tarifária”, afirmou o relatório.
De acordo com as projeções do Bradesco, o crescimento do PIB da China deverá desacelerar de 5,2%, em 2024, para 3,5%, neste ano. Essa taxa é menor do que a média de expansão dos países emergentes estimada pela instituição, de 3,8%.
O Brasil, por sua vez, deverá crescer abaixo da média de crescimento dos países da América Latina, 2,4%, neste ano, e de 2%, no ano que vem.