Itaú Unibanco revisa projeções e piora cenário fiscal deste ano e do próximo

Um dia após o governo enviar ao Congresso PLDO de 2026 com perspectivas otimistas para o PIB e as contas públicas, Itaú Unibanco aumenta previsão do tamanho do rombo fiscal até 2026

Um dia após o governo enviar o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026 com perspectivas otimistas para a economia, mas com receitas incertas e um novo salário mínimo de R$ 1.630, o maior banco privado nacional divulgou novas projeções macroeconômicas com piora das perspectivas para o quadro fiscal.

Apesar de manter as estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e do próximo inalteradas e reduzir a perspectiva de inflação, a equipe liderada pelo economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, elevou de 0,7% do PIB para 0,8% do PIB a projeção para o rombo das contas públicas em 2025 e em 2026. Os dados vão na contramão da previsão do governo que consta no PLDO de 2026, de um superavit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) de 0,28% do PIB, levemente acima da meta fiscal de um superavit primário de 0,25% do PIB. Para 2026, a proposta do governo das regras que serão a base para a elaboração do Orçamento do próximo ano, a expectativa é de um saldo positivo nas contas públicas de 0,50% do PIB, em linha com a meta, de mesmo percentual, mas o fato de haver receitas incertas gera preocupação com o cumprimento das metas fiscais no próximo ano. 

Pelas projeções do Itaú Unibanco, o resultado de 2025 pode ser melhor do que o estimado pela instituição “caso o governo tenha maior sucesso na sua agenda de receitas, especialmente as de caráter extraordinário como de leilões de petróleo e dividendos de estatais”. Os economistas do banco, inclusive, não descartam contingenciamento de gastos ainda neste ano.

“Com menor crescimento das receitas, avaliamos ser ainda mais importante que o governo anuncie medidas de contenção de despesas. Um anúncio de uma contenção robusta, da ordem de R$ 40 bilhões, na próxima revisão bimestral, em maio, sinalizaria uma maior prudência na execução orçamentária, diante de riscos de frustração das receitas extraordinárias e de nova subestimação de despesas obrigatórias “, alertou o documento, citando o que ocorreu em 2024 com, principalmente Previdência Social e Benefício de Prestação Continuada (BPC), “que seguem com pouca evidência de sucesso das iniciativas antifraude”. 

Na avaliação de Mesquita, a manutenção da meta fiscal de 2026, que prevê um superavit primário de 0,25% do PIB, “reduz risco de deterioração adicional das condições financeiras, como ocorreu em 2024, mas não contorna a percepção de que o ritmo de ajuste fiscal implementado pelas regras vigentes é aquém do necessário para gerar ao menos uma perspectiva de estabilização da dívida pública”.

O relatório da equipe de Mesquita ainda faz um alerta sobre o principal risco considerado para 2026: a implementação de iniciativas que alterem, contornem, ou desfigurem explicitamente ou implicitamente as regras fiscais, executando ritmos mais elevados de crescimento das despesas primárias e/ou maiores renúncias de receita.

O Itaú Unibanco manteve as estimativas de crescimento do PIB neste ano e no próximo, de  2,2% e de 1,5%, respectivamente, mas não descartou revisões para baixo diante das incertezas no cenário global. “Acreditamos que a desaceleração global e a queda de preços de commodities têm efeito negativo sobre a atividade, mas devem ser compensadas pela expansão do novo crédito consignado privado. Apesar da manutenção da projeção para este ano, destacamos o viés de baixa, diante do elevado risco de desaceleração da atividade mundial ainda mais intensa”, destacou o documento da instituição financeira.

O time de Mesquita ainda revisou de 5,7% para 5,5% a previsão para a inflação oficial deste ano incorporando perspectiva de redução dos preços da gasolina e do efeito da queda dos preços das commodities. Contudo, a estimativa segue acima do teto da meta, de 4,5%. A previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2026, foi revisada de 4,5% para 4,4%. Enquanto isso, as projeções macroeconômicas do governo no PLDO do próximo ano são mais otimistas, pois preveem avanço do PIB de 2,3%, em 2025, e de 2,5%, em 2026, e, para a inflação oficial, as previsões são de 4,9% e de 3,5%, respectivamente.

Além de manter a previsão para o dólar em R$ 5,75 neste ano e no próximo, o banco acredita que o Banco Central manterá cautela na condução da política monetária e, por conta disso, manteve a projeção de que o fim do ciclo de alta da taxa básica da economia (Selic) para junho. Com isso, a instituição espera mais duas altas de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, atualmente em 14,25%, para 15,25% anuais.

Cenário global

O Itaú Unibanco destacou que, apesar de o tarifaço aplicado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desencadear um processo de desaceleração global, a expectativa é de que as negociações evitarão o pior. O banco prevê que as tarifas recíprocas não deverão ficar além dos 10% generalizados em vigor e que EUA e China farão um acordo que levará a tarifa efetiva total dos EUA para em torno de 20%. “Esse patamar, caso alcançado, embora seja um alívio em relação à situação atualmente em vigor, ainda é muito superior ao de cerca de 11% que suponhamos no nosso cenário anterior, o que implica em revisões baixistas para o PIB mundial”, destacou o relatório da equipe da instituição. 

O banco prevê que o PIB mundial avance 2,7%, em 2025, e 2,6%, em 2026, frente aos 3,2% e 3,1%, respectivamente, previstos anteriormente. A expectativa de expansão do PIB dos EUA, antes de 2%, neste ano e no próximo, foi reduzida para 1,2% e 1%, respectivamente.