BC revisa de 3,2% para 3,5% previsão para o PIB deste ano e confirma desaceleração em 2025

Banco Central eleva de 3,2% para 3,5% a previsão de alta do PIB deste ano e reconhece desaceleração para 2025. Projeções de inflação seguem sendo revistadas para cima e BC admite estouro do teto em 2024

Banco Central do Brasil/Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Assim como os analistas do mercado, o Banco Central revisou para cima a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2024, refletindo a surpresa positiva dos resultados do terceiro trimestre e dos indicadores disponíveis do quarto trimestre. A atividade mais forte fez o BC também elevar as estimativas para o custo de vida da população. Conforme o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado nesta quinta-feira (19/12), o BC elevou a previsão de expansão do PIB de 3,2% para 3,5%, e passou a admitir estouro do teto da meta de inflação deste ano, de 4,5%, pela terceira vez na gestão de Roberto Campos Neto na presidência do BC.

A mudança nas projeções para o PIB, de acordo com o RTI, refletiu uma elevação na projeção para o setor de serviços, parcialmente compensada por recuos nas estimativas para a agropecuária e a indústria. A projeção para a variação anual da agropecuária foi reduzida de ‑1,6% para ‑2,0%. “A revisão da série histórica da agropecuária, que incorporou dados das pesquisas estruturais para 2023 e prognósticos atualizados para a safra de 2024, foi particularmente importante”, destacou o texto.

Para 2025, a previsão de crescimento do PIB passou de 2% para 2,1%, mas o relatório reconhece que a expectativa de menor crescimento em relação a 2024 será resultado, principalmente, de um aperto monetário mais intenso do que o previsto no RTI anterior. O aumento marginal, segundo o documento também está relacionado ao carregamento estatístico do PIB maior deste ano, que foi revisado para cima.

“No âmbito doméstico, de um lado, o aperto recente nas condições financeiras pode ter um impacto contracionista mais intenso do que o considerado. De outro lado, parte do elevado crescimento nos últimos anos pode estar relacionada às reformas estruturais, o que introduz a possibilidade de novas surpresas positivas, dadas as incertezas em torno da taxa de crescimento potencial”, destacou. O BC também prevê um menor impulso fiscal do governo e ausência de forte impulso mercado externo, “dada a perspectiva de crescimento mundial em 2025 semelhante ao de 2024”.

O BC também revisou as estimativas de inflação e prevê alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acima do teto da meta, de 4,5%, neste ano. “As recentes surpresas inflacionárias e a revisão das projeções de curto prazo também contribuíram, no caso via inércia, assim como a elevação da taxa de juros neutra considerada. Esses fatores mais do que compensaram os efeitos da subida da taxa de juros real, que, entretanto, contribuíram para evitar um aumento mais acentuado nas projeções”, destacou o documento.

Estouro da meta de infação

O BC passou a prever alta de 4,89% no IPCA neste ano, o que implica em descumprimento da meta de inflação, obrigando a autoridade monetária escrever uma carta ao Conselho Monetário Nacional (CMN) justificando o fato, como ocorreu em 2021 e 2022. Antes, a estimativa estava em 4,3%. “A inflação ao longo de 2024 decorreu da combinação de diferentes fatores, principalmente a depreciação cambial, o ritmo forte de crescimento da atividade econômica e fatores climáticos ou relacionados ao ciclo do boi, em contexto de expectativas de inflação desancoradas e inércia da inflação do ano anterior”, destacou o documento.

Para 2025, a estimativa passou para 4,5%, mas com o indicador chegando a 5% no segundo e no terceiro trimestres do ano. A previsão anterior era de 3,7%. Para 2026, a estimativa de alta do IPCA segue acima do centro da meta, de 3%, e passou de 3,3%, no relatório anterior, para 3,6%, no atual.

Crédito menor

Após o Banco Central acelerar o ciclo de alta da taxa básica da economia (Selic), para 12,25% ao ano, na semana passada e ainda sinalizar mais dois aumentos da Selic de 100 pontos-base nas duas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), fez o BC reduzir as previsões de crescimento do crédito neste ano e no próximo, passando de 11,1%, para 10,6%, em 2024, e de 10,3% para 9%, em 2025.

“A revisão nas projeções considerou, em particular, o cenário de política monetária mais restritiva e a reavaliação da trajetória dos financiamentos com recursos direcionados, que prevaleceram sobre as expectativas de maior crescimento da atividade econômica e mercado de trabalho mais aquecido”, destacou. Já a previsão para a entrada de investimentos no país manteve-se estável em US$ 70 bilhões nos dois anos.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, cujo mandato termina no próximo dia 31, e o futuro presidente da autoridade monetária, Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, participam da apresentação do RTI aos jornalistas.