Por Luiz Recena Grassi*
A catedral de Notre Dame de Paris não faz milagres. Há quem insista que, vez por outra, cometa alguns feitos. Os principais são os episódios de suas destruições por mão alheia e as reconstruções por mãos próprias e de amigos. O mais recente foi festejado no domingo 8 de dezembro, e marcou a recuperação, em tempo recorde, dos estragos causados por um incêndio devastador. Antes do evento, encontros políticos entre Emmanuel Macron, Volodymyr Zelensky e Donald Trump, ousaram ser chamados de milagres pela mídia favorável. Pode até acontecer depois mas, agora, não é bem assim. O ucraniano finalmente admitiu e Trump avisou logo que são 400 mil as vítimas de Kiev no conflito. Mais 12 mil mortos só na última semana. Há separação entre mortos e feridos, mas especialistas do ramo informam que a Ucrânia estaria a contar só os seus nativos. Estrangeiros incorporados em grupos mercenários ou brigadas pagas por países da União Europeia, estariam em outra contabilidade, mais do que secreta.
O americano também disse que verba nova será difícil e que vai revisar a autorização de Biden para que Kiev use mísseis dos Estados Unidos para atacar território russo. Ocorreu de novo: Foram lançados no meio da semana seis mísseis ATACSMS contra o sul da Rússia. Respostas não demoram: os russos apagaram as fontes de eletricidade nas principais cidades ucranianas antes do sábado. Quase cem mísseis e mais de 200 drones foram usados. Podem ser movimentos finais antes de algum acordo. As temperaturas chegaram a seis graus negativos em Kiev e nas linhas de frente. A Rússia continua atacando, conquistando e gastando, gastando muito. Foram US$ 43 bilhões no terceiro trimestre do ano. Vladimir Putin aposta no enfraquecimento da defesa do adversário. A Ucrânia voltou a demitir generais de operações importantes. Os demitidos dizem que não dá mais para segurar, pois falta tudo. Zelensky implora por sistemas antiaéreos que não chegam. José Biden tenta conseguir mais verbas, que quando aparecem pingam a conta-gotas. A França mandou brigadas que não resolvem. A Alemanha repetiu seu mantra: todo apoio aos ucranianos, mas não haverá verbas ou mísseis novos para fortalecer Kiev. Antigos assessores do Pentágono recomendam ter chegado a hora de tirar Zelensky da sala quando os mais velhos chegarem para conversar. O padrinho Biden terá ainda um mês para tentar ajudar. Há festas natalinas e de fim de ano a encurtar os prazos. Notre Dame teria visto, na madrugada fria, uma figurinha encurvada a vagar por suas gárgulas, a falar sozinho em língua eslava. As negociações de paz continuam a acontecer. Na sombra e nos segredos das principais salas dos poderosos do mundo.
O CORREIO SABE PORQUE VIU.
Estava lá. A diplomacia russa começou nova campanha junto a seus cidadãos: é melhor não ir aos Estados Unidos, Canadá e alguns países europeus neste momento. Os russos poderão ser caçados, avisa e assusta o discurso oficial. E acrescenta que este é o pior nível das relações entre Rússia e EUA na história moderna, principalmente no pós Guerra Fria. Parece estar mesmo sepultado o tempo de amor e paixão vivido pelos dois blocos no início da Perestroika.
Foi tempo de idílio e romance, com americanos tratados a pão de ló nas principais cidades e lugares da Rússia. E os russos sendo incentivados e auxiliados por todos a deixar os Urais e fazer a América. O sempre inacessível consulado norte-americano abriu portas e facilitou vistos. E o temido Ministério do Interior dos bolcheviques tornou mais simples a burocracia para permissões de viagem aos EUA.
Todos queriam ajudar, diplomatas e correspondentes também. Mais ricos e entusiastas, italianos e espanhois eram destaque. Afinal, esse auxílio poderia ajudar nos caminhos de relacionamentos mais fáceis entre as partes. Nem tudo eram flores e caso do colega espanhol ganhou fama, atravessou tempos. Interessado em uma bela moscovita que queria partir, fez o que pode para ajudá-la a viajar. Finalmente, no dia da entrega da permissão, fez de tudo: buscou a moscovita em casa, bairro distante, levou-a ao Ministério do Interior, esperou algumas horas até a viajante sair alegre, com seu papel na mão. Don Juan Feliz preparou-se para a festa. Mas o destino não quis: a moça tinha outros planos e desceu da carona na primeira grande estação do metrô. Disse ter problemas em casa, beijou-lhe a face e sumiu na multidão. Sobrou a raiva com que contava a história e pedia briga com quem risse. “Não se faz mais mulheres comunistas como antes”, dizia. Errava o alvo, encerrava o assunto.
*O jornalista foi, por muitos anos, correspondente do Correio Braziliense em Moscou