Crescem as apostas para alta maior nos juros, pelo BC, após IPCA ficar acima do esperado

Apesar da desaceleração na taxa do IPCA de novembro, em relação à de outubro, alta de 0,39% ficou acima das expectativas no mercado, que aumenta as apostas para um Copom mais agressivo na última reunião do ano

Banco Central do Brasil/Foto: Raphael Ribeiro/BCB

A inflação oficial de novembro, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,39% em relação a outubro, quando a carestia teve alta de 0,56%, conforme os dados divulgados, nesta terça-feira (10/12), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado mostra uma desaceleração de 0,17 ponto percentual na comparação com os dados de outubro, mas ficou acima das expectativas do mercado e da mediana das estimativas coletadas no boletim Focus, do Banco Central, de 0,35%. Além disso, o indicador acelerou em relação ao percentual registrado em novembro de 2023, de 0,28%. No acumulado de 12 meses, o IPCA subiu 4,87%, acima do teto superior de 4,5% da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3%.

A maioria das apostas é de alta de 0,75 ponto percentual na taxa básica da economia (Selic), para 12% ao ano, amanhã, no segundo dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Será o último encontro do ano do Comitê e analistas esperam que os diretores do BC tenham um posicionamento mais duro no combate à inflação (hawkish, no jargão do setor). Algumas instituições financeiras, como Itaú Unibanco e XP Investimentos, estão prevendo aumento maior nos juros, de 100 pontos-base, levando a Selic para 12,25% anuais.

“Em nossa visão, na possibilidade de piora das condições econômicas e expectativas de inflação, as autoridades deixaram a porta aberta para um aumento do ritmo de aperto à frente”, destacou o relatório do Itaú Unibanco, que prevê alta da mesma magnitude na próxima reunião e que o Copom deverá sinalizar que os juros devem permanecer elevados por um período mais prolongado. Os economistas da instituição informaram que o comunicado do BC deve informar que, diante da piora das projeções e do balanço de riscos, além da possibilidade de desancoragem adicional das expectativas, “a taxa de juros deverá se manter em patamar contracionista pelo tempo necessário, diante do firme compromisso do Comitê no processo de convergência da inflação à meta”.

Conforme dados levantados pelaa equipe econômica do Itaú Unibanco, a perspectivas de inflação do modelo do Banco Central deverá apontar o indicador acima de 4% no segundo trimestre de 2026, o “horizonte relevante” para a reunião do Copom deste mês, a última do ano e com os atuais diretores, incluindo o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Na avaliação de Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval, a atividade e a inflação mais resilientes, pressionada pela desvalorização do real mais recente, devem fazer com que o Banco Central acelere a alta de juros de 0,50 ponto, na reunião do Copom anterior, para a acelerar a alta de juros para 0,75 ponto, nesta semana, para 12%, mas um aumento maior não está descartado. “As projeções atualizadas de inflação usando versão do modelo de pequeno porte do BC subiram em relação à reunião do Copom de novembro. A projeção para o horizonte relevante que já estava acima da meta deve se distanciar ainda mais, passando de 3,6% para 4,1%”, destacou. Segundo ele, desde a última reunião do Copom as expectativas de inflação se deterioraram significativamente e a taxa de câmbio apresentou expressiva depreciação no período, e uma alta maior . “Diante do cenário econômico mais adverso, o comitê deveria agir de forma mais contundente. Portanto, não descartamos a possibilidade de elevação de juros acima do nosso cenário base”, afirmou.

Bradesco defende gradualidade

Apesar do aumento das apostas de uma aceleração no ritmo da taxa Selic, atualmente em 11,25% ao ano, alguns analistas reforçam o argumento de que um choque nos juros será o melhor remédio no momento, em vez da manutenção do ritmo de 0,50 ponto percentual de da reunião do Copom de novembro, que aumentou os juros para o patamar atual.

Na avaliação da equipe de economistas do Bradesco chefiada por Fernando Honorato, contudo, que manteve a previsão de alta na Selic de 0,50 ponto percentual amanhã, no segundo dia de decisão do Copom, uma aceleração no ritmo de alta da Selic “não resolverá os problemas que nos trouxeram até aqui”. “A essa altura, não há nada que o Banco Central possa fazer para impedir que a inflação dos próximos meses seja pressionada pelo repasse do câmbio, pela elevação dos preços de proteínas e pela deterioração das expectativas”, afirmou em relatório enviado aos clientes hoje. 

Para Honorato, as expectativas devem seguir ainda mais desancoradas com as incertezas fiscais – que levarão alguns meses para serem dirimidas, “a depender da intensidade dos ajustes do pente-fino e das eventuais modulações no Congresso da agenda de gastos ou do Imposto de Renda. “Adicionalmente, não haverá ajustes nas expectativas enquanto não houver melhora na inflação corrente. As expectativas de até um ano à frente são bastante influenciadas pelos dados correntes, e não há perspectiva de melhora no curto prazo”, alertou.  Para Honorato, um eventual choque de juros apenas ampliará a volatilidade do Produto Interno Bruto (PIB). “Os eventos que ocorreram desde o último Copom são alheios à política monetária e, a essa altura, acelerar o passo pode agravar o equilíbrio de riscos na economia, sem que haja ganhos substanciais para a inflação, vis-à-vis à estratégia alternativa. A serenidade, a persistência e a convergência gradual, ao ritmo de 50 pontos-base , ainda parecem a melhor escolha para lidar com o momento peculiar e com a incerteza que vivemos”, escreveu.

Vilões da inflação

Entre os nove grupos de produtos e serviços analisados pelo IBGE para a pesquisa do IPCA, três apresentaram alta em novembro. O grupo alimentação e bebidas registrou a maior variação, com 1,55%, contribuindo com 0,33 ponto percentual para a alta do índice geral, com as carnes entre os maiores vilões. Em seguida, o grupo transportes subiu 0,89%, adicionando 0,18 ponto percentual, enquanto as despesas pessoais avançaram 1,43%, com impacto de 0,14 ponto percentual.

Na contramão, o grupo de habitação variou registrou deflação de 1,53% e trouxe a maior contribuição negativa para o mês, de 0,24 ponto percentual no índice geral, lembrou a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta. “O principal vetor de descompressão sobre o grupo veio de energia elétrica residencial, que passou a sofrer os impactos da precificação da bandeira amarela em detrimento da bandeira vermelha patamar 2, promovendo uma deflação de 6,27% no período. Itens relevantes, como aluguel residencial e mão-de-obra, que são fortemente afetados pelo nível de renda da população, assim como pela inércia inflacionária, seguem no terreno positivo, mas não apresentam variações inflacionárias significativas frente aos meses anteriores”, explicou.

Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, avaliou que o fato de o IPCA vir acima do esperado pelo mercado aumenta pressão sobre o Banco Central, uma vez que novembro um mês em que o IPCA desacelera, principalmente, devido às promoções da Black Friday e a tendência é de aceleração de preços na média trimestral dessazonalizada.  O IPCA de novembro não ajudou em nada o BCB, que vê a pressão para acelerar o ritmo de alta dos juros. Não pelo número em si que, com pressões pontuais para cima e para baixo, ficou apenas ligeiramente acima do esperado pelo mercado, mas por tudo que está em volta deste resultado. O acumulado em 12 meses chegou a 4,87%, pelo segundo mês seguido acima do teto da banda de flutuação da meta de inflação (4,50%). Pela mesma métrica, a ‘média dos núcleos’ ultrapassou os 4%”, afirmou. 

De acordo com Leal, a inflação de novembro “foi um cabo de guerra” entre o subgrupo ‘carnes” e o item ‘energia elétrica residencial’. Enquanto o primeiro subiu 8,02%, impactando positivamente o índice geral em 0,20 ponto percentual, o último apresentou deflação de 6,27%, impactando negativamente o IPCA de novembro em 0,27 ponto percentual. Ele lembrou que, no caso das carnes, continuam os problemas de oferta devido à redução do rebanho, e, no da energia residencial, a deflação foi resultado da redução no patamar da tarifa extra na conta de luz. “Os números qualitativos tiveram comportamentos dúbios. Se por um lado mostraram desaceleração com relação ao mês anterior, por outro vieram acima do esperado. Isso foi especialmente ruim para os ‘serviços subjacentes’ que passaram de 0,76% para 0,60%, mas vieram bem acima dos 0,41% esperados pelo mercado”, alertou.