Prévia da inflação acima do esperado aumenta apostas maiores na Selic

Alta de 0,54% na prévia da inflação de outubro ficou acima das projeções do mercado e reforça as apostas de alta mais forte nos juros no Copom de novembro, de 0,50 ponto percentual

O aumento de 0,54% na prévia da inflação de outubro, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) divulgado, nesta quinta-feira (24/10), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou acima das estimativas do mercado, em torno de 0,50%. O resultado reforçou as apostas de alta de 0,50 ponto percentual na taxa básica da economia (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em novembro, o que fará os juros passar dos atuais 10,75% ao ano para 11,25% anuais.

O dado do IPCA-15 de outubro acelerou em relação à alta de 0,13% de setembro e foi puxado, principalmente, pelo salto de 5,29% no custo da energia elétrica, que passou para a bandeira vermelha patamar 2. No mês anterior, a variação de preços da conta de luz foi de 0,84%. 

De acordo com o economista e consultor André Perfeito, o que mais chama atenção não é o índice cheio, mas a elevação dos preços dos serviços, em especial a medida de serviços subjacentes, “que são olhados com atenção pelo Banco Central, que subiu 0,59%”. Ele prevê uma alta de 0,50 ponto percentual na taxa básica na reunião do próximo Copom.  

A próxima reunião do Copom ocorre nos dias 5 e 6 de novembro. “O mercado está praticamente 100% precificando uma aceleração na taxa Selic, mas, ao longo da curva, a previsão da inflação média ainda está muito baixa ainda e ainda será preciso incluir a transmissão da alta do dólar. Por isso, o IPCA deverá ficar na faixa de 0,50% em outubro, em novembro e em dezembro”, explicou Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos. Pelas estimativas dele, a inflação deste ano deverá ficar mais perto de 5% “e isso vai puxar ainda mais para cima o IPCA de 2025 a Selic deverá subir mais também, deixando o mercado ainda mais comprador de juros do que vendedor”.

Na avaliação de Eduardo Velho, o dólar deverá seguir valorizado e oscilando acima do piso informal de R$ 5,48, “à espera de um ajuste fiscal que ainda não foi sinalizado pelo governo”.  Para ele, o Banco Central continuará com dificuldade para entregar a inflação dentro da meta neste ano, tanto que ele elevou de 4,74% para 4,92% a previsão central para o IPCA . E, “portanto, a Selic precisaria subir, no mínimo, para 12,75% para reduzir o risco do descumprimento do teto do IPCA de 2025”.

Na avaliação de Alexandre Maluf, economista da XP Investimentos, os números de serviços reforçam a visão de uma deterioração nos próximos meses da inflação, “impulsionada pela sólida demanda doméstica, mercado de trabalho aquecido e expectativas de inflação desancoradas”.  Ele demonstrou preocupação com o avanço dos núcleos da inflação, que subiu 0,42%, acima das estimativas da XP, de 0,34% e passou a prever a inflação deste ano acima do teto da meta, de 4,5%.

“Em suma, o IPCA-15 de outubro reforça a tendência de deterioração da inflação no Brasil. Não apenas porque as métricas mais relevantes para a condução da política monetária superaram as expectativas, mas também porque os fundamentos, expectativas, dados do mercado de trabalho, demanda doméstica e câmbio indicam que a inflação não convergirá sem uma resposta adequada da política monetária. Considerando o cenário desafiador, nossa estimativa de 4,6% para o IPCA de 2024 tem viés de alta”, afirmou Maluf, em relatório para os clientes.