A prévia da inflação oficial divulgada, na manhã desta quarta-feira (25/9), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desacelerou em relação a agosto e ficou abaixo das expectativas do mercado. O dado foi positivo, mas não pode ser comemorado totalmente, porque ainda não reflete o custo de vida do mês de setembro. Além disso, como as expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ainda são crescentes, tanto para 2024 quanto para 2025, a tendência é de que o Banco Central, que começou a aumentar a taxa básica da economia (Selic), na semana passada, mantenha o ciclo de aperto monetário até o início do próximo ano.
De acordo com analistas, apesar de o Banco Central ter dado sinais duros na ata do Copom de que vai perseguir a meta de inflação até o primeiro semestre de 2026, o governo ainda precisa conquistar a confiança do mercado, porque não apontou receitas recorrentes para cumprir as metas fiscais corretamente, o que preocupa quem acompanha com lupa as contas públicas — o modus operandi é sempre criar receitas extraordinárias de todos os governos, seja de esquerda, seja de direita. E, além disso, ainda existem muitas incertezas pelo caminho, tanto no mercado doméstico quanto no externo. Portanto, cautela ainda é o melhor remédio.
O IPCA-15 de setembro desacelerou em relação ao do mês anterior, de 0,19% para 13%, conforme os dados do IBGE. A mediana das previsões do mercado era de 0,28%. Apesar do indicador mais fraco, sete dos nove grupos pesquisados registraram alta ou estabilidade de preços e Habitação foi o com maior impacto, de 1,17 ponto percentual. Apenas dois grupos tiveram queda de preços: Transportes (-0,08%) e Despesas Pessoais (-0,04%). Enquanto a média geral do indicador acumula alta em 12 meses até setembro de 4,12%, o grupo Alimentos e bebidas já tem uma variação bem maior no mesmo período, de 5,22%, e é o que mais impacta no bolso das famílias mais pobres.
Conforme informações de analistas, contribuíram para esse resultado os dados dos grupos intensivos de trabalho, como alimentação fora e serviços bancários abaixo do esperado. Além disso, serviços automotivos tiveram deflação na leitura do IBGE. O grupo de serviços como um todo também ficou abaixo e teve como elemento adicional de alívio alta menor em passagens aéreas, com o fim das férias escolares.
“Houve surpresa positiva também em bens industriais e nos preços administrados. O primeiro grupo teve como destaques deflação em etanol, roupas femininas e eletrodomésticos. Já o segundo grupo, teve alta menor em energia elétrica e deflação em gasolina”, destacou o relatório dos economistas do Banco Daycoval liderado por Rafael Cardoso. Segundo ele, apesar da surpresa baixista na inflação logo após a retomada do ciclo de alta dos juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, na semana passada, quando a taxa Selic subiu para 10,75% ao ano, foi concentrada “em dados de atividade mais fortes e expectativas de inflação desancoradas”, portanto, o resultado do IPCA-15, ainda que positivo, “não deve abortar o ciclo de alta dos juros”.
Segundo relatório elaborado pela economista Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, os dados do IPCA-15 de setembro foram mais fracos do que o esperado “por conta de itens pontuais, que devem ser devolvidos nas próximas divulgações, mas também trouxe notícias boas na parte qualitativa”. A economista prevê que, daqui para frente, deverá haver piora na dinâmica inflacionária refletindo condições ainda favoráveis no mercado de trabalho que deverão ir em linha com a dinâmica da expectativa de alta da Selic subindo ao ritmo mais 0,25 ponto percentual nas próximas reuniões até janeiro de 2025, quando chegará a 11,50% ao ano. Pelas projeções da Warren, o IPCA deverá encerrar o ano em 4,60%, acima do teto da meta, de 4,50% e, em 2025, passará para 4,20%