O crescimento de 1,4% no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2024 divulgado, nesta terça-feira (3/9), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou acima das expectativas do mercado e do governo, mostrou uma atividade econômica mais resiliente neste ano. Mas essa notícia boa vem junto com uma não tão animadora assim, pois esse aquecimento na economia confirma mais um dos riscos que o Banco Central voltar a aumentar a taxa básica da economia (Selic) ainda neste mês.
A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, ocorre nos próximos dias 17 e 18 e o consenso que está se formando entre é de que o comitê deverá aumentar a taxa Selic, atualmente em 10,50% ao ano, em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, pelo menos, para os próximos 45 dias — prazo de cada intervalo entre as reuniões do colegiado.
Com o PIB crescendo acima do esperado, em grande parte, graças aos estímulos fiscais do governo, as pressões inflacionárias que levaram a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o teto da meta, de 4,5% no acumulado dos 12 meses encerrados em julho, não haverá alternativa ao Copom senão voltar a aumentar a Selic. Assim como as previsões do PIB estão sendo revisadas para cima, a expectativa de inflação para este ano e os próximos devem aumentar também, alertam os analistas, pois atividade aquecida, especialmente por conta do aumento da demanda interna, vai pressionar os preços. Além disso, a volta da bandeira vermelha na conta de luz é outro fator que vai contribuir para que os diretores do BC façam novo alerta sobre os riscos inflacionários.
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, por exemplo, já vinha prevendo alta de 0,25 ponto percentual na taxa Selic a partir do próximo Copom, desde a última reunião, de julho, quando o colegiado deixou a porta aberta para o aumento dos juros em meio à expansão fiscal do governo que segue em ritmo acentuado.
“O PIB do segundo trimestre veio bem melhor do que o esperado, e, agora, mesmo se o país não crescer nos dois próximos trimestre, o carregamento estatístico do primeiro semestre vai para 2,5%”, explicou Padovani. Ele contou que está revisando a previsão de crescimento do PIB deste ano para 2,8%, mas tem a impressão de que o “voo de cruzeiro” da economia brasileira está próximo de 3%. Mais cedo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a pasta vai revisar para cima a previsão de avanço do PIB, passando de 2,5% para 2,8%, ou mais,
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, também acredita que o ciclo de alta da Selic se avizinha, o que não será favorável para as perspectivas futuras para o consumo. “O dado do PIB impressiona mais pela diferença entre o resultado e as estimativas dos economistas. O efeito estatístico da alta de 1,4% é de alta de 2,5% no PIB anual caso a economia permaneça no nível atual, o que deve levar as expectativas de alta em 2024 de algo mais próximo de 3%”, afirmou. Ele lembrou também que, tanto o consumo das famílias quanto os investimentos desaceleraram em relação ao primeiro trimestre do ano, passando de 2,5% e de 3,8%, respectivamente, para 1,3% e para 2,1%.
O Banco Central manteve a Selic em 10,50% ao ano nas duas últimas reuniões Copom, em junho e em julho, mas esse resultado positivo do PIB e acima do esperado pode resultar em juros mais altos neste mês, de acordo com Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. Ele prevê alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica, “moderando a curva”. “Se o Copom começar elevando os juros com 0,50 ponto percentual, ele poderá sinalizar que a situação é mais grave do que parece. A dúvida, então, será como os membros do comitê devem analisar esse cenário”, destacou Agostini. Para o economista, há fatores suficientes para a alta de juros chegar a 11,75% no fim deste ano, porque “o fiscal não está ajudando” e os diretores do BC serão obrigados a voltar a aumentar a taxa de juros.