IPCA de julho acelera para o teto da meta e eleva risco de alta nos juros

IPCA de julho acelera para 0,38% e fica acima do esperado pelo mercado e acumula, em 12 meses, alta de 4,5%, no teto da meta de inflação. Analistas alertam para risco maior para alta de juros

O  Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou em julho e a taxa acumulada em 12 meses subiu para 4,50%, no teto da meta de inflação prevista para o ano, de 3%, com limite superior de 4,50%. Analistas alertam para a piora do cenário da inflação para a política monetária do Banco Central, apesar de o índice de difusão ter ficado em 47%, menor patamar desde setembro de 2023, de 43%, pois o risco de aumento nos juros está maior.

Conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta sexta-feira (9/8), o IPCA avançou 0,38% em julho — acima da variação de 0,21% no mês anterior –, puxado pelos reajustes nos combustíveis e nas passagens aéreas. O resultado da inflação oficial ficou acima das projeções do mercado, cuja mediana no boletim Focus, do Banco Central, era de 0,33%. Especialistas reconhecem que as projeções de inflação para o ano estão com viés de alta, com maior chances de o indicador romper o teto da meta.

Nesta semana, ao divulgar a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada, o BC deixou a porta aberta para aumento da taxa básica da economia (Selic), atualmente em 10,50% ao ano, ao afirmar que “não hesitará” em aumentar os juros, caso for necessário. Após a divulgação da ata, alguns analistas não descartam as chances de a Selic continuar em 10,50% ao ano, pelo menos até o fim de 2025.

“A inflação no teto da meta preocupa no que pode acontecer com os juros. Por enquanto, estamos prevendo a manutenção da Selic”, disse Fábio Romão, economista sênior da LCA Consultores. Já a projeção da consultoria para o IPCA de 2024, de 4,4%, está com viés de alta após o resultado de julho, devendo encerrar o ano “muito perto” da taxa de 2023, de 4,6%.

Romão lembrou que, na semana passada, a LCA elevou de 4,2% para 4,4% a projeção de alta do IPCA deste ano, depois de o governo aumentar a taxação de impostos sobre os cigarros. “Esse número mais forte do IPCA de julho somente veio a reforçar essa mudança”, afirmou. “Olhando para os filtros que se aplicam ao IPCA, os núcleos vieram altos, 0,43%. A inflação subjacente de serviços, que é uma espécie de núcleo dos serviços, também incomodou, com uma taxa alta também. A surpresa benigna, que foi confirmada, na verdade, é a alimentação em queda que acabou devolvendo parcialmente os efeitos de alta das enchentes no Sul e que pressionaram o IPCA de maio e junho. Mas a fotografia não está bonita não, porque o indicador ficou acima das nossas projeções de 0,35%”, acrescentou Romão. 

Para agosto, por conta da bandeira verde em energia e da diluição nos aumentos de gasolina e do gás de botijão que ocorreram no começo de julho, ele contou que as projeções da consultoria são de alta de 0,15% no IPCA deste mês, mas a previsão é de aceleração dos preços nos meses seguintes. “As nossas estimativas para setembro e outubro são maiores do que as taxas desses meses no ano passado”, destacou o economista.

Na avaliação de José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o IPCA de julho no teto da meta só não foi maior por conta da deflação do grupo de alimentos, especialmente itens in natura, que recuou 1% e tirou 0,22 ponto percentual da alta geral do indicador.  “Sem a queda em alimentos o IPCA seria bem mais alto. Enfim, a leve piora nos preços dos serviços subjacentes (com alta de 4,97%) e nos intensivos em trabalho (de 5,62%) reforça a cautela do Copom reiterada na ata desta semana”, destacou. Segundo Gonçalves, a composição do IPCA não surpreendeu tanto, “mas sugere revisão de alta na projeção para 2024, de 4,3%, e no carregamento para 2025”. 

Luis Otavio Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners, ressaltou que o dado do IPCA de julho foi muito influenciado por questões pontuais. “Noventa por cento da alta do índice foi por conta das altas nos preços da passagens aéreas, da energia elétrica e da gasolina”, explicou ele, que prevê taxa negativa em agosto.  “Por outro lado, temos a inflação de serviços subjacentes ainda muito alta, mostrando que será difícil desacelerar os preços desse grupo que o Banco Central chama de última milha”, destacou. Para ele, a boa notícia do resultado do IPCA de julho foi que os serviços intensivos em mão-de-obra vem tendo um desempenho melhor, o que abre uma luz no fim do túnel. “Mas a parte mais preocupante mesmo foram os bens industriais vindo acima do esperado, o que pode já ser impacto da desvalorização cambial”, acrescentou. Por enquanto, ele manteve em 4,10% a projeção do IPCA para este ano.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, destacou que a taxa acumulada em 12 meses em julho é a maior em 12 meses, a média dos três meses anualizada, mostra “uma piora significativa da qualidade do IPCA”, com a média dos núcleos acelerando para 4,2%,  alimentos subjacentes escalando para 5,8% e serviços subjacentes em 6,1%. “Há números muito ruins, com uma piora significativa na qualidade dos dados do IPCA e devemos ver uma continuidade desse momento negativo ao longo do segundo semestre deste ano. Isso é um cenário ruim para o Copom que vai ser pressionado no fim deste ano, mas não sei se o suficiente para o Banco Central subir os juros, mas vai suar frio”, afirmou.

De acordo com a economista Luciana Rabelo, do Itaú Unibanco, o dado do IPCA de julho mostrou que “o melhor momento qualitativo da inflação parece ter ficado para trás”. “Esperamos que o componente de serviços siga pressionado, refletindo o mercado de trabalho apertado, assim como os preços industriais, refletindo o câmbio mais depreciado”, acrescentou. Pelas projeções do Itaú, a taxa Selic seguirá em 10,50% até o fim de 2025, passando para 9,5%, no fim de 2026.