O decreto número 12.079, publicado nesta quarta-feira (26/6), em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), está sendo bem visto pelo mercado, pois era bastante aguardado. Com ele, a partir do próximo ano, haverá mudança na nova sistemática para a meta de inflação para a condução da política monetária e também prevê mudanças também nas publicações do Banco Central.
De acordo com a nova regra, a meta de inflação será contínua, mas continuará nos atuais em 3%, com limites superiores e inferiores de 1,5 ponto porcentual. Isso significa que o Banco Central precisará observar a média dos últimos três meses, nesse patamar, e, a partir disso, ajustar a política monetária.
Além disso, o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) passará a se chamar Relatório de Política Monetária. “A sistemática de divulgação será a mesma do Relatório de Inflação”, de acordo com a assessoria do Banco Central, que informou que a mudança está “em linha com a prática internacional”. O novo formato passará a valer a partir de 2025.
Para analistas, a publicação do decreto será visto de forma positiva, especialmente por manter a meta no atual patamar de 3%, que vinha sendo criticado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sistematicamente. “Esse decreto determina que o presidente do Banco Central tem que dar uma justificativa, caso ultrapasse o limite superior da meta ou inferior, e faça um planejamento para retomar, para voltar à meta. Algo que acho que não estava tanto assim no radar de todos”, afirmou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
“A meta contínua é usada por vários países e pode funcionar, principalmente, com conceito de que se a inflação ficar fora da meta por seis meses, mas é importante que o BC defina o prazo de convergência”, destacou o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
De acordo com ele, a expectativa era mais só de manter a meta em 3% também é positiva. Contudo, as falas de hoje do presidente, reforçando que não aceita desvincular a aposentadoria do salário mínimo, por exemplo, continuam afetando o humor dos agentes financeiros, vem repercutindo mal no mercado. “Estamos vendo uma série de medidas sendo propostas ao longo de 2023 e neste ano para o equilíbrio fiscal, mas a maior parte delas é descartada pelo presidente, o que pesa negativamente”, ressaltou Cruz.
“O mercado até consegue enxergar o que poderia equilibrar as contas, mas se o presidente não quer, haverá muita instabilidade nos próximos anos e o mercado só vai dar uma animada quando a parte externa melhorar com o corte de juros nos Estados Unidos”, acrescentou o analista.
Não à toa, o dólar segue em alta frente ao real, batendo novo recorde. Por volta das 13h, registrava valorização de mais de 1%, cotado a R$ 5,51 para a venda. Enquanto isso, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) operava no vermelho, a 122.105 pontos, queda de 0,18% em relação à véspera. “O dólar está valorizado lá fora, mas como a fala de Lula ajudou a piorar as curvas de juros e a Bolsa, o câmbio também foi junto”, explicou Cruz.