Em mais uma Super Quarta, Fed mantém juros em 5,25% a 5,50%

ROSANA HESSEL   Como esperado pelo mercado, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) manteve, nesta quarta-feira (31/1), a taxa de juros de referência no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano e sinalizou que ainda há incertezas em relação à atividade econômica.   Foi a quarta reunião seguida em que o comitê […]

ROSANA HESSEL

 

Como esperado pelo mercado, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) manteve, nesta quarta-feira (31/1), a taxa de juros de referência no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano e sinalizou que ainda há incertezas em relação à atividade econômica.

 

Foi a quarta reunião seguida em que o comitê de política monetária banco central norte-americano, o Fomc, manteve os juros no maior patamar em 22 anos. A decisão foi unânime pelos integrantes do colegiado liderado pelo presidente do Fed, Jerome Powell. 

 

De acordo com o comunicado do Fomc, o Comitê mantém o objetivo de atingir a meta de inflação de 2% a longo prazo, mantendo o nível máximo de emprego possível. “O Comitê considera que os riscos para o cumprimento dos objetivos de emprego e de inflação estão a evoluir para um melhor equilíbrio. As perspectivas econômicas são incertas e o Comitê permanece muito atento aos riscos de inflação”, destacou o informativo divulgado após a reunião do colegiado, em mais uma Super Quarta de decisões dos bancos centrais dos EUA e do Brasil — como é conhecida no mercado financeiro.  

 

“O Comitê está fortemente empenhado em fazer com que a inflação regresse ao seu objetivo de 2%”, afirmou. Segundo o comunicado, ao avaliar a orientação adequada da política monetária, o Fomc “continuará a monitorar as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas”. 

 

Em 2023, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) encerrou o ano com inflação acumulada em 12 meses de 3,4%.  O ciclo de aperto monetário do Fed foi iniciado em março de 2022 e há dúvidas sobre quando os cortes devem começar. 

 

Ryan Sweet, economista-chefe dos EUA da Oxford Economics, avaliou que o Fomc não abraçou totalmente a visão dos mercados financeiros de que os cortes nas taxas poderiam ocorrer já em março, porque o banco central norte-americano “não está totalmente confiante de que a inflação esteja a evoluir ‘de forma sustentável’ em direção à meta de inflação de 2%.  “Não parece que o Fed aceite a ideia de cortes nos juros para aumentar as probabilidades de planejar uma aterrissagem suave da atividade econômica. Dito isto, se o Fed se encontrar atrasado, terá bastante espaço para fazer cortes agressivos e isso poderá influenciar a sua comunicação” , afirmou ele, em comunicado aos clientes. O economista prevê que a primeira redução nas taxas de juros norte-americanas ocorrerá em maio.

 

Com juros mais altos nos EUA, os mercados emergentes, como o Brasil, tendem a ver as suas moedas enfraquecerem frente ao dólar, o que pode ajudar a pressionar a inflação doméstica, elevando os custos internos, pois o excesso de liquidez do cenário internacional tende a ser direcionado para países mais seguros, como os Estados Unidos.

 

O economista Matheus Pizzani, da CM Capital, destacou que, apesar de inegável a melhora recente dos indicadores de inflação, o núcleo do indicador ainda permanece em patamar incondizente com o objetivo de longo prazo da instituição, que é o de controlar a inflação em 2% ao ano, e deverá demorar mais que o esperado para arrefecer, uma vez que o nível de atividade econômica do país segue extremamente resiliente, como facilmente comprovado pelos dados recentes, especialmente no caso do Produto Interno Bruto (PIB). Ao analisar a fala de Powell após o comunicado, “as incertezas criadas no interior da economia desde o início da pandemia demandam ações mais incisivas por parte do Fed para garantir que o trabalho feito até aqui resultará de fato no atingimento da meta de inflação de longo prazo”.

 

O economista ressaltou que Powell reconheceu que deverá ser mais difícil que o esperado conseguir trazer a inflação para a meta. “A autoridade monetária do país acha prudente aguardar mais divulgações de inflação para garantir de que se trata da pavimentação de um caminho de desinflação sustentável ao longo do tempo, ressaltando que todos estão cientes dos riscos de deixar a taxa de juros elevada por tempo além do necessário, especialmente para a atividade econômica e o mercado de trabalho, com este último sendo parte integrante do duplo mandato do Fed”, explicou.

 

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central brasileiro, também anunciará a sua decisão mais tarde. O consenso entre analistas é que o colegiado vai manter o ritmo de corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica da economia (Selic), para 11,25% ao ano. O ciclo de afrouxamento monetário do Copom começou em agosto do ano passado e, pela mediana das estimativas do boletim Focus, do Banco Central, a taxa básica deverá encerrar 2024 a 9% anuais.