ROSANA HESSEL
A desconfiança do mercado financeiro e no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é crescente em meio às incertezas sobre a mudança na meta fiscal, de acordo com a 5ª rodada da pesquisa Genial/Quest: “O que pensa o mercado financeiro”, divulgada nesta quarta-feira (22/11). A avaliação negativa da gestão petista passou de 47% para 52%, entre setembro e novembro, e, para piorar, 73% dos entrevistados acreditam que a política econômica está indo na direção errada.
De acordo com o levantamento da Quaest feito em parceria com a Genial Investimentos, o principal fator dessa avaliação ruim do governo é a descrença na política fiscal, que piorou com o aumento das pressões do governo para a mudança da nova meta fiscal, que é ambiciosa por prever deficit primário zerado em 2024. Não à toa, para 77% dos entrevistados, o principal problema que dificulta a melhoria da economia é a falta de uma política fiscal que funcione.
“O governo criou problema para ele mesmo quando resolveu levantar a dúvida sobre a questão do deficit zerado”, destacou o cientista político Felipe Nunes, fundador e presidente da Quaest, em entrevista ao Blog.
De acordo com o levantamento, 55% dos agentes financeiros consideram que a economia vai piorar nos próximos 12 meses, percentual acima dos 34% registrados na rodada anterior, em setembro. Já o percentual dos que acreditam em melhora da economia encolheu de 36% para 21%.
A pesquisa constatou que a totalidade dos entrevistados descartou um rombo fiscal zerado em em 2024, como está previsto na meta fiscal que ainda não foi aprovada ainda pelo Congresso. Entre setembro e dezembro, o percentual dos que não acreditam que o governo entregará saldo das contas públicas zerado, passou de 95% para 100%.
O otimismo em relação à atividade econômica do país, neste ano, também diminuiu, pois 51% dos entrevistados acham que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ficará abaixo de 3%, neste ano, percentual bem acima dos 15% que faziam essa projeção em setembro.
Apesar do aumento do pessimismo do setor financeiro, o quadro ainda não é desesperador para a economia, de acordo com Nunes. “O mercado não acredita que o país entrará em recessão, o que mostra que o cenário econômico é reversível”, destacou o presidente da Quaest.
Avaliação da equipe econômica
Entre os ministros de Lula, o mais importante neste momento é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de acordo com Felipe Nunes. “É ele quem tem que sair fortalecido na queda de braço interna para que o governo saia mais forte lá na frente”, explicou.
A pesquisa da Quaest indicou ainda que, para 80% dos entrevistados, no entanto, a equipe econômica atual é pior que a do governo Jair Bolsonaro (PL). Além disso, 39% deles acreditam que Haddad tem menos força do que há dois meses.
Conforme os dados da pesquisa, a aprovação da reforma tributária ainda neste ano é uma certeza para 68% dos entrevistados e a nota atribuída ao conjunto foi de 5,3%. Na avaliação de 74% dos entrevistados, a proposta é melhor do que o sistema atual.
Conflito Israel-Hamas
As falas do presidente Lula sobre o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas não ecoaram bem junto ao mercado financeiro.
O levantamento da Quaest constatou que 85% desaprovaram a postura do presidente Lula sobre o conflito, mas 78% dos entrevistados avaliaram que a economia brasileira não será afetada.
Foram realizadas 100 entrevistas com gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão das maiores casas de investimento do Rio de Janeiro e de São Paulo, entre os dias 16 e 21 de novembro. As entrevistas foram feitas on-line.
Veja alguns destaques da pesquisa da Quaest: