ROSANA HESSEL
Em meio às declarações polêmicas contra o mercado financeiro, como as constantes críticas ao Banco Central e as ameaças de mudar até a meta de inflação –, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), parece ter conseguido agradar, pelo menos, metade dos agentes financeiros, em grande parte, devido à atuação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e à melhora do cenário econômico, de acordo com a terceira rodada da pesquisa Genial-Quest: “O que pensa o mercado financeiro”, divulgada nesta quarta-feira (12/7).
Conforme os dados da sondagem de opinião feita pela Quaest Consultoria encomendada pela Genial Investimentos, 44% dos entrevistados avaliam o governo Lula 3 como negativo. Esse percentual era quase o dobro em maio, de 86%, e de 90%, na edição anterior, de março. Enquanto isso, 36% dos entrevistados disseram que o governo Lula 3 é regular, acima dos 12%, registrados em maio, e dos 10%, em março. A avaliação positiva do governo, que estava em zero e passou para 2%, entre março e maio, na edição deste mês, chegou a 20%.
Conforme os dados da pesquisa, em julho, 53% dos entrevistados consideram que a política econômica do país está indo na direção errada, abaixo dos 90% de maio e dos 98% em março. Por outro lado, as respostas de que a política econômica está na direção certa passou de 2%, em março, para 10%, em maio, e agora, para 47%, em julho.
Para 53% dos entrevistados a economia vai melhorar nos próximos 12 meses, dado bem acima dos 13% contabilizados em maio e dos 6%, em março. O percentual de pessoas que acreditam que a economia vai ficar do mesmo jeito no mesmo período permaneceu em 26% em relação a maio, que estava acima dos 16% de março.
Já o percentual de executivos e analistas que acham que a economia vai piorar nos próximos 12 meses despencou nas três rodadas da pesquisa da Genial-Quaest-, passando de 78%, em março, para 61%, em maio, e para 21%, em julho.
Melhor percepção de Haddad
Os agentes do mercado financeiro melhoraram a avaliação do ministro da Fazenda. Entre maio e julho, o percentual de entrevistados que consideram o trabalho da Haddad positivo saltou de 26% para 65%. Em março, na primeira rodada da sondagem, a aprovação do chefe da equipe econômica de Lula era de apenas 10%.
“A atuação do Haddad tem feito com que ele se torne o queridinho do mercado. Está atendendo aquilo que o mercado espera. Enquanto isso, Lula faz discurso pra atender a sua base. Ou seja, é uma boa dupla!”, destacou o cientista Felipe Nunes, diretor da Quaest.
Por outro lado, a avaliação regular de Haddad caiu nas três edições da pesquisa, passando de 52%, em março, para 37%, em maio, e para 24%, em julho. Enquanto isso, o percentual de avaliações negativas de Haddad recuaram de 38%, em março, para 37%, em maio, e para 11%, em julho.
A maioria dos entrevistados continua achando que o governo não está preocupado com o controle da inflação, tanto que atingiu o pico de 80% em março, e recuou para 66%, em julho, levemente abaixo dos 68% de março. O percentual de pessoas que acreditam que o governo está preocupado em segurar a inflação passou de 20% para 34%, na mesma base de comparação. Em março essa fatia era de 32%.
A decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) composto pelo ministro da Fazenda, pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, de manter a meta de inflação, de 3%, para os próximos três anos (2024, 2025 e 2026) e com banda de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, foi considerada correta por 94% dos entrevistados. Apenas 6% considerou errada. Outra decisão do CMN, de mudar o sistema para meta contínua.
Para 54%, os investimentos externos no Brasil vão aumentar, e 23% creditam a recente melhoria nos preços dos ativos ao fortalecimento de Haddad. Para 32% essa recuperação deve-se ao movimento dos mercados internacionais, enquanto 20% destacam a atuação do Congresso, mesmo percentual dos que apontam a ação do Banco Central. Apenas 3% atribuem a mudança a ações do governo Lula.
Na avaliação de 92% do mercado financeiro, a taxa básica da economia (Selic), atualmente em 13,75% ao ano, deve ser reduzida na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), que ocorre nos dias 1º e 2 de agosto. Para 55% dos entrevistados, a redução deverá ser de 0,25 ponto percentual; outros 32% esperam queda maior, de 0,50 ponto percentual.
De acordo com 55% dos entrevistados, o tom da ata do da última reunião do Copom, entre os dias 20 e 21 de junho, foi positivo. A manutenção da Selic em 13,75% é considerada correta por 87% dos entrevistados. A atuação de Campos Neto foi avaliada positivamente por 86% dos agentes financeiros que responderam à pesquisa.
A Quaest realizou 94 entrevistas com gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão das maiores casas de investimento do Rio de Janeiro e de São Paulo, entre os dias 6 e 10 de julho. As entrevistas foram feitas on-line, por meio da aplicação de questionários estruturados.