A quarta-feira começou bem para o governo Lula, com a divulgação de pesquisas de opinião indicando uma retomada na popularidade, mas terminou com um sabor amargo após a derrota na Câmara dos Deputados. Se, nas primeiras horas do dia, os aliados do Palácio do Planalto viam com entusiasmo a possiblidade de Lula disputar um quarto mandato presidencial em 2026, essa mesma perspectiva eleitoral foi decisiva para a Câmara derrubar a MP 1.303, importante para o governar melhorar a situação fiscal nos próximos dois anos.
São os dois lados da eleição antecipada. Faltam 12 meses para os brasileiros voltarem às urnas, mas o atual momento na política nacional levou governo e oposição a antecipar a disputa eleitoral. Ante a sequência de notícias positivas para o presidente Lula — aproximação com Donald Trump, desemprego em baixa, aprovação de isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil —, a oposição busca maneiras de golpear pontos vulneráveis.
A questão fiscal é o campo de batalha do momento. Sob o argumento genérico de que o brasileiro não aguenta mais pagar imposto, partidos do Centrão e de oposição desarticularam qualquer possibilidade de acordo em favor da MP 1.303. Derrotado, o governo prepara as armas para a revanche: contigenciamento no Orçamento — inclusive nas emendas parlamentares — além de uma mobilização da opinião pública. Desde o início da tarde os governistas alardeavam que a derrubada da MP não é uma derrota do governo, e sim do Brasil. Já se fala na realização de novas manifestações, a exemplo do que ocorreu com as propostas da PEC da Blindagem e da anistia aos golpistas do 8 de janeiro.
Com o potencial eleitoral de Lula cada vez mais fortalecido, é certo que a oposição fará o possível — não necessariamente o correto — para evitar mais vitórias do Planalto. A polarização tende a aumentar, os temas de interesse da sociedade tendem a ser ofuscados por manobras para agradar a grupos específicos e projetos partidários. Infelizmente, 2026 começou antes da hora.
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