Morte de ex-delegado põe em debate a proteção a agentes da lei no combate ao crime

Marcado para morrer, Ruy Ferraz dedicou a vida para proteger os cidadãos do poder das facções. Episódio coloca no centro do debate a adoção de medidas de proteção a quem combate o crime organizado

Governo de São Paulo

Foram muitas vezes que o ex-delegado geral de São Paulo Ruy Ferraz Fontes esteve cara a cara com bandidos. Desde 2012 ele havia sido alvo de emboscadas ou assaltos, algumas vezes com troca de tiros. Nos últimos meses, pressentiu que a vida podia estar por um fio.

“Eu combati esses caras durante tantos anos e agora os bandidos sabem onde moro. Minha família, agora, quer que eu deixe o emprego em Praia Grande e saia de São Paulo”, disse Fontes, após sofrer um assalto em dezembro de 2023 na cidade litorânea, onde trabalhava como secretário municipal de Administração.

As razões para a execução ainda precisam ser esclarecidas. Mas as imagens do crime evidenciam claramente uma ação de profissionais. Em um veículo preto, armados com fuzis, os bandidos perseguem o ex-delegado até que a vítima, em fuga, bate em um ônibus. Os homens descem do carro e cumprem a ordem de matar.

A execução do ex-chefe da Polícia Civil paulista impõe urgência no debate sobre o reforço no enfrentamento do crime organizado. E essa ação inclui proteção policial para agentes públicos. O Ministério da Justiça pretende elaborar um projeto de lei que assegure a integridade física de quem está ou esteve no front contra o crime organizado.

O assunto é complexo e exige uma coordenação das forças de segurança. Quem cuidaria da segurança de policiais, ou integrantes do Ministério Público? Como integrar esse esforço? Como financiar? Parte dessa discussão está no projeto de lei antimáfia, que, entre outros pontos, estabelece penas mais duras contra as facções criminosas.

O fato é que o poder público enfrenta um inimigo poderoso. Para ficar apenas no Brasil, há diversos exemplos de autoridades que pagaram com a vida o preço de combater o crime, como a juíza Patrícia Acioli e a vereadora Marielle Franco. É preciso avançar em ações para impedir que facções imponham a lei do medo e da violência.