O governo federal montou uma força-tarefa para conter um foco de gripe aviária no Rio Grande do Sul. Desde 2006 o país não registrava casos da doença — este é o primeiro registro em um estabelecimento comercial. Até então, os casos ocorreram em aves silvestres.
Segundo autoridades e especialistas, não há risco de infecções para quem consumir carne de frango ou ovos. O perigo maior é com os avicultores, que precisam lidar com os animais e podem sofrer alguma contaminação pelo vírus da doença.
Seis barreiras sanitárias foram montadas na região afetada. Elas funcionam durante 24 horas para evitar o contágio. Em Montenegro, há mais de 500 produtores de aves. Na granja onde foi identificado o foco de gripe aviária, mais de 17 mil animais foram abatidos.
Além de causar um problema sanitário, o caso de gripe aviária anunciado hoje já teve os seus primeiros impactos econômicos. A China anunciou que suspendeu a compra de carne de frango por 60 dias. o país asiático é o maior consumidor desse produto exportado pelo brasil. a suspensão é imediata, definida em protocolo pelos dois países. Segundo estimativas, o prejuízo pela suspensão do comércio de aves para a China pode chegar a US$ 100 milhões por mês.
Ao longo desta sexta-feira, União Europeia e Argentina também suspenderam a compra do frango brasileiro. O governo corre contra o tempo para mostrar que adota medidas sanitárias eficientes para controlar o surto da doença infecciosa. E aposta nas cláusulas de regionalização de embargos para que evitar que outros países cancelem a demanda pela proteína brasileira.
Não é um bom momento para o agro brasileiro enfrentar esse problema. Há meses o governo Lula vem trabalhando para ampliar a presença de produtos agrícolas brasileiras em mercados consumidores. O caso de gripe aviária é um risco que precisa ser mitigado rapidamente.
É preciso trabalhar ainda contra outro mal que prejudica as exportações brasileiras: a desinformação. São recorrentes os protestos de produtores rurais europeus contra os concorrentes sul-americanos . Alegam que as medidas sanitárias e de controle ambiental no Brasil são bem mais frouxas.
Depois da guerra sanitária, será preciso enfrentar a batalha das narrativas.
A polêmica “reborn” em um país carente de verdade

Já ouviram falar em reborn? A nova mania que varreu as redes sociais tem provocado muita discussão dentro e fora do ambiente virtual. Os bonecos hiperrealistas, que buscam imitar bebẽs, podem ser facilmente encontrados em qualquer site de compras ou lojas de brinquedos. Mas existem modelos artesanais, que podem custar milhares de reais.
Até aí poderíamos alegar que isso é coisa de colecionadores. Tem gente que coleciona livros, armas, selos, objetos antigos, obras de arte, etc. O problema é que a turma do reborn está se envolvendo em situações no mínimo complicadas: há relatos de gente que leva esses bebês de brinquedo para unidades hospitalares, em busca de atendimento médico. Outros exigem, por exemplo, assento preferencial.
O fenômeno começou a preocupar os políticos. Em várias cidades do país, parlamentares têm apresentado projetos de lei para impor limites e sanções aos adeptos de bebês reborn. Alegam que o sistema de saúde, por exemplo, não pode dedicar atenção a esse tipo de paciente, em meio a tantas outras carências na saúde pública brasileira.
No Congresso Nacional, pelo menos três projetos tratam desse tema. A deputada federal Rosãngela Moro (União Brasil-SP) defende algumas diretrizes para acolhimento psicossocial a pessoas que demonstram afeto a algum objeto. Segundo a deputada, o apego emocional a bebẽs reborn pode ser um indício de sofrimento psíquico.
No ambiente inflamado das redes sociais, é difícil falar de um tema que tem causado reações tão destemperadas. Mas convém salientar que a febre dos bebês reborn talvez indique outros aspectos relevantes da sociedade brasileira. Possivelmente o apego por objetos que imitam crianças tenha alguma relação com outros problemas contemporâneos, como o desafio de educar uma criança ou de formar uma família. Não se deve, portanto, menosprezar ou simplificar as manifestações emocionais das pessoas. Talvez seja a maneira que elas encontraram de pedir algum tipo de ajuda.
Procura-se um rumo para o futebol brasileiro

A Confederação Brasileira de Futebol está perdendo de goleada no critério governança. O afastamento do seu presidente, Ednaldo Rodrigues, por determinação da Justiça do Rio de Janeiro, ampliou a discórdia que há meses vem minando a entidade máxima do esporte mais popular do país.
Assim que Ednaldo Rodrigues foi afastado, 19 presidentes de federações do brasil assinaram um manifesto pedindo a renovação na entidade máxima do futebol. Os signatários reivindicam uma nova eleição na CBF — horas depois, foi anunciada a realização de um novo processo eleitoral. Segundo o manifesto, “o futebol brasileiro vive um momento decisivo”, pois enfrenta “problemas estruturais”.
Mas, como tudo relativo ao futebol no Brasil, nem mesmo a revolta dos dirigentes é unânime. Líderes de federações importantes não assinaram o manifesto, como São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Está claro, pois, que os cartolas do futebol brasileiro estão divididos, o que aumenta ainda mais a confusão.
A eleição na CBF está marcada para 25 de maio – um dia antes de o italiano Carlo Ancelotti divulgar a lista de convocados para o time que disputará duas partidas pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026.
Ednaldo Rodrigues foi afastado da presidência da CBF após denúncia de falsificação de assinatura de um dos vice-presidentes da entidade. Esse episódio, no entendimento do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, seria suficiente para anular a eleição.
No início da semana, o ainda presidente da CBF Ednaldo Rodrigues foi notícia ao anunciar a contratação de Carlo Ancelotti para comandar a seleção. Para muitos, tratava-se de um movimento para conter a insatisfação entre os dirigentes do futebol.
A questão que se coloca é: como organizar um time para a Copa do Mundo nessas condições? E como reabilitar o futebol brasileiro, marcado por tanta desorganização e instabilidade? Mais do que um novo técnico, o esporte que é a cara do Brasil precisa de um novo rumo. O caminho da decadência está cada vez mais incontornável.