Em um daqueles encontros empresariais organizados pelo Grupo Lide em Nova York, nesta semana, o ex-presidente da República Michel Temer e o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, deram declarações sobre o que pensam acerca do papel da oposição.
Primeiro: é preciso ficar claro que não existe democracia sem situação, que é o governo da vez, e oposição.
Mas qual oposição seria, digamos assim, ideal? Existe oposição ideal?
E por que pergunto isso aqui no Bloco de Notas? Porque geralmente funciona assim: quem está no governo costuma criticar a oposição, mas quando chega à oposição faz igual ou até pior do que aquilo que criticava anteriormente. É uma realidade antiga na política nacional.
Na avaliação de Michel Temer, “a oposição existe para ajudar a governar, e ajuda quando critica, observa, contesta”. E, segundo o ex-presidente, “não é isso que se aplica ao nosso país”.
Ciro Nogueira, ex-petista e hoje na oposição ao governo Lula, defende que se pode criticar o governo, mas nunca focar as críticas nas pessoas. Embora ele critique, sim, a pessoa do presidente do Lula. Disse, inclusive, que o petista voltou ao Palácio do Planalto para este terceiro governo “fora da sua época”. É evidente que essa é uma crítica também pessoal.
Oposição não pode querer destruir o governo da vez, só porque perdeu a eleição. Oposição precisa reconhecer coisas boas do governo da vez — embora um monte de marqueteiro e consultor por aí diga que não. Por outro lado, o governo da vez tem de saber lidar com críticas — sem tachar tudo de “fake news”, por exemplo — e não deslegitimar nem perseguir quem pensa diferente.
Parece ser algo simples, não é? Mas quem está no poder, seja na situação ou na oposição, costuma ficar cego para as coisas simples.