Enfim, Brasil e EUA podem dar um novo rumo para o tarifaço e a incompreensão

O governo Trump é um dia a cada dia, mas a sinalização de um possível diálogo com Lula põe a diplomacia em evidência e afasta, por ora, a influência bolsonarista

ANGELA WEISS/AFP e BRENDAN SMIALOWSKI/AFP

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizou um gesto de aproximação com o Brasil. É recomendável considerar esse movimento político com cautela, pois o chefe da Casa Branca elogiou o presidente Lula um dia depois de o governo norte-americano anunciar mais sanções contra um ministro — o titular da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias —, e representantes do Judiciário e a mulher do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

É verdade que o governo de Donald Trump é marcado pelo seu estilo mercurial e imprevisível. É verdade também que os dois presidentes mantêm posições opostas em questões internacionais relevantes, como Palestina, Venezuela, Cuba, multilateralismo e crise climática. Mas a postura de Trump indica, minimamente, que há possíveis canais de diálogo entre Brasil e Estados Unidos. Duzentos anos de relação bilateral, a comunhão de valores como a democracia e muitas possibilidades no comércio entre as duas economias podem ter contribuído para o chefe da Casa Branca deixar um pouco de lado o viés ideológico, fortemente influenciado pelo bolsonarismo, entabular uma conversa pragmática com o representante do Brasil.

Do ponto de vista do Brasil, é inegável que o presidente Lula obteve uma vitória diplomática relevante. Na tribuna da ONU, o titular do Planalto reiterou o posicionamento do Brasil em defesa da democracia, da soberania, do multilateralismo, da sustentabilidade e do combate à fome. E volta para Brasília com a melhor possibilidade, até aqui, de superar o tensionamento político e econômico com os Estados Unidos. Espera-se que o bom senso prevaleça nas próximas semanas.

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