A deputada Carla Zambelli (PL-SP) movimentou Brasília nesta terça-feira ao anunciar que está fora do Brasil. Condenada a 10 anos de prisão por invadir os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e, com ajuda de um hacker, inserir documentos fraudulentos contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, a parlamentar aposta na cidadania italiana para ser ver livre das ações do Judiciário.
Ao anunciar que está a caminho da Europa, Zambelli disse que continuará sua atividade política pelo que entende como democracia, justiça e liberdade de opinião. Assim como vários bolsonaristas, afirma que sofre perseguição política. Ocorre que a condenação que a levou a sair do país nada tem a ver com o direito ao livre pensamento. A parlamentar tem contas a acertar com a Justiça brasileira por causa de um processo criminal.
Em maio, por unanimidade, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal entendeu que Zambelli cometeu crime de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. Além de 10 anos de detenção inicialmente em regime fechado, os ministros determinaram perda de mandato parlamentar e inelegibilidade por oito anos. Segundo o voto do relator Alexandre de Moraes, seguido pelos integrante da 1ª Turma, as ações da bolsonarista não configuram apenas um delito penal, mas uma tentativa de desmoralizar o Judiciário e atuar contra o Estado Democrático de Direito.
Com esse processo, pode-se dizer que a carreira política de Zambelli está encerrada. Ela aposta em uma sobrevida como militante no exterior. Abandonada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, a parlamentar ainda tem a solidariedade de alguns nomes do PL, como o líder da legenda na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante. Tende a se juntar ao grupo de ativistas que mobiliza as redes sociais para atacar o atual governo e o Judiciário brasileiros.
Não se deve menosprezar as possíveis ações de Zambelli no exterior. As denúncias de supostos abusos da “ditadura do Judiciário” no Brasil encontram reverberação em países estrangeiros, particularmente onde a direita encontra projeção, A recusa da Justiça espanhola de extraditar o blogueiro foragido Oswaldo Eustáquio e a ameaça do governo Trump de negar o visto a autoridades que aplicarem “censura” a americanos são sinais de que as acusações bolsonaristas podem provocar desgastes políticos, criar tensões diplomáticas e acirrar a polarização.
Para assistir à edição de hoje do Bloco de Notas, clique no link abaixo: