A política do espetáculo

Não vale mais o que é feito, mas, sim, o que é dito e como é dito: um teatro de péssimo gosto

Imagem gerada por IA

A política é teatro. Sempre foi. Sempre será. Na semana passada, disse isso no ar, na rádio Novabrasil FM, e recebi uma série de mensagens com críticas ao meu comentário. Eu entendo. Também já reagi assim a quem dizia algo parecido. Eu acreditava mesmo na “pureza” da política.

Com quase um par de décadas conversando com políticos diariamente, digo e repito quantas vezes for necessário: a política é um teatro. E constatar isso é libertador. Faz a gente analisar e criticar o espetáculo com mais tranquilidade.

Mas eu preciso admitir que a coisa está passando da medida. Resultado da sociedade do espetáculo que, claro, fez da política somente um espetáculo. Não importa mais o que é feito em si. Importa o que é anunciado e, principalmente, como é anunciado. É uma política ilusória.

Meses atrás, Antonio Anastasia, ex-senador e ex-governador que hoje ocupa uma vaga de ministro no Tribunal de Contas da União, disse que não voltaria mais à política tradicional porque não se enxerga mais ali. Não conseguiria ter que conviver com parlamentares com celulares na mão gravando cada detalhe em tempo real no plenário ou nos corredores do Congresso.

A lacração tem contribuído para afugentar políticos cultos, moderados, equilibrados, inteligentes. O teatro era mais prazeroso de ser visto. Parece que agora virou tudo um grande stand-up de garagem — dos ruins.